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São Filipe Néri: um conselho inusitado

Os Santos nos surpreendem algumas vezes nas manifestações de amor ao próximo. Animados de uma “misteriosa” alegria, a par de sofrimentos inenarráveis, em sua sede de almas, incansáveis, encontram eles “estratégias pedagógicas” para bem formar as pessoas e, com a graça, transformá-las. É o que vemos na vida de São Filipe Néri, este grande Santo nascido em Florença, na Itália, em 1515, fundador da Congregação do Oratório, na qual grupos de padres levavam vida comunitária mediante um regulamento e excelente orientação espiritual.

Conta-nos o Padre Francisco Alves, C.SS.R. este episódio, rico de ensinamentos, e, ao mesmo tempo, pitoresco.

Certa vez ouviu São Filipe Néri com muita paciência as lamúrias de uma senhora que se queixava amargamente, dizendo que seu marido todos os dias a insultava e ofendia com palavras péssimas. Logo que ela cessou de falar, disse-lhe o Santo:

– É triste! É triste! Mas eu lhe darei uma água que tornará bonzinho o seu marido. A senhora há de ver.

Foi à sala de jantar, encheu uma garrafa com água da talha e, voltando à portaria, disse àquela senhora:

– Olhe, quando seu marido ficar furioso e começar a dizer aqueles palavrões, a senhora tome um gole desta água e conserve-a na boca quanto tempo puder, antes de a engolir. Há de dizer-me, depois, qual o efeito.

A mulher partiu satisfeita. Chegou em casa e, não demorou muito, o marido começou a trovejar. Ela, imediatamente… água na boca! Como aconselhara o Santo.

O marido, maravilhado do silêncio da mulher, também se calou. E dali em diante a cena repetia-se: palavrões… água na boca!… silêncio… água na fervura! Cessaram as discussões, as brigas… A mulher estava encantada com aquela água. Foi agradecer a S. Filipe e queria mais daquela água…

– Minha filha – disse o Santo – o milagre está no silêncio; conserve a língua defendida pelos dentes e verá como seu marido não a insultará mais.

Ótimo remédio e não custa nada!

Aí esta um conselho – onde o risonho se une ao santo – daquele que bem poderia ser chamado o Profeta da alegria cristã:

Seu amor à Santa Igreja, sua entranhada devoção à Santa Missa e à Santíssima Virgem, somados à disposição de servir o próximo, produziram copiosos frutos. Sofreu o inenarrável por causa de uma frágil saúde, perseguições e invejas, sem por isso perder o sorriso, quase sempre mantido com heroísmo. No dia de sua morte, 26 de maio de 1595, ele ainda celebrou Missa, atendeu várias confissões e manteve com os padres do Oratório umas últimas horas de convívio. Ao receber o Viático, pronunciou estas palavras, resumitivas de sua existência: “Eis a Fonte de toda a minha alegria!”.²

“Eis a fonte de minha alegria!”: Nosso Senhor Jesus Cristo. E, intercedendo por nós junto a Ele, sua Mãe Santíssima, conforme rezamos na Ladainha de Nossa Senhora: “Causa de nossa alegria, rogai por nós”. Sim, Maria Santíssima, rogai por nós, como rogaste pelo Santo e profeta da alegria, São Filipe Néri.

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¹ Padre Francisco Alves, C.SS.R. A água milagrosa de S. Filipe. In Tesouro de Exemplos. 2ª ed. Petrópolis: Editora Vozes Limitada, 1960. 2° Volume, N. 415 (p.227)

² Irmã Carmela Werner Ferreira, EP. Profeta da alegria cristã. In Arautos do Evangelho, São Paulo, Ano IX. N. 101 (mai. 2010); p. 37.

Idem. http://www.arautos.org/secoes/artigos/especiais/sao-filipe-neri-profeta-da-alegria-crista-143549 – Acesso em 28 mai. 2017