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JUNTE OS PONTOS

Vários escritores brasileiros e até estrangeiros comentam uma característica muito presente no nosso povo: nossa intuição e a capacidade de chegar rapidamente a conclusões por vezes de uma precisão impressionante a partir de poucos dados.

O fato narrado a seguir é característico deste dom de Deus ao brasileiro.

Num destes interiores pelo Brasil a fora um pequeno sitiante procurava um cavalo perdido, mas do qual muito necessitava. Em certo momento deparou-se com uma cena típica de nossos sertões: junto a uma casinha modesta, um caipira cochilava à sombra de um arvoredo.

 

O sitiante perguntou-lhe se havia visto passar um cavalo por ali.

 

— É um cavalo arrastando uma corda? — pergunta o nosso caipira.

— Sim, sim. Esse mesmo!

— E que é manco da pata dianteira esquerda?

— Sim. Mas onde…

— E cego do olho direito?

— É esse mesmo.

— E faltam dois dentes bem na frente?

— Sim, senhor. Onde o senhor o viu?

O caipira interrompeu a pergunta e acrescentou:

— E está levando milho no jacá da direita?

— Sim! Esse mesmo. Onde o senhor o viu?

— Não, moço eu não vi o cavalo…

— Mas como? Se o senhor sabe tudo isso que acabou de contar?

 

— Venha aqui à trilha e vai ver.

Na trilha, mostrou ao sitiante:

— Veja: aqui na areia está a marca da corda; essa outra marca de pata afunda menos no chão, é de um cavalo manco. Ele parou para comer o capim, mas só come do lado esquerdo da trilha porque é o que ele enxerga. Aqui, nas mordidas no capim a gente vê que ele não tem dois dentes bem na frente.

— Mas…

— “Tá” levando milho, porque, olhe ali, as formigas já estão levando para o buraco…

— Mas o cavalo onde está?

— Não sei, moço. Deve estar pra lá, pois as marcas mostram aquela direção. Mas, como eu disse ao senhor: não vi o cavalo, não.

 

 

De modo semelhante ao intuitivo camponês, se nós quisermos, podemos ver Deus Criador nos vestígios deixados por Ele na Criação.

Como não ver no cordeiro uma imagem de Jesus? Ele mesmo, para mostrar seu amor por nós se compara a uma galinha com seus pintinhos.

Em outra passagem do Evangelho Ele nos estimula a ver os sinais. Diz, ao explicar o fim dos tempos: “Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo”. (Mt 24,32)

Vendo certos pores-do-sol, ou os ipês em flor, ou até mesmo uma florzinha num vaso, a “esperteza” de um gato caminhando tranquilo numa altura vertiginosa, um beija-flor, uma estrela cintilante… enfim, poderia alongar a lista…

São realidades que “falam” sobre o Divino Artista que as fez. “Os céus narram a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos”, inicia o Salmo 18.

Deus, como Pai amoroso, deixou estes vestígios — é a expressão usada por São Tomás de Aquino. Como no desenho conhecido como “junte os pontos”, se os unirmos teremos a figura desejada, assim também “juntando os pontos” desses reflexos de Deus podemos fazer uma ideia das sua grandeza, sua sabedoria, sua bondade, sua santidade.

Junte os pontos

Isso tudo veio à memória ouvindo Monsenhor João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho. Afirmava ele: crer na existência de Deus não é só uma questão de Fé; é uma questão de usar bem a inteligência.

Fica aqui, caro visitante o convite para que “junte os pontos” desses vestígios dAquele que tudo criou… inclusive a você.

 

 

Ilustrações: Arautos do Evangelho, pixabay, wiki.

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