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O sentido católico da dor

No post anterior (“A gota d’água no cálice”) sobre o recente Retiro espiritual, vimos que a temática era como encarar o papel do sofrimento nas nossas vidas. O texto a seguir, de autoria do Mons. João Clá, Fundador dos Arautos do Evangelho, aprofunda o assunto.
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O SENTIDO CATÓLICO DA DOR

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

A única Religião que encara bem a dor é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Ela mostra quanto a dor é indispensável e deve ser compreendida. Nós só a entendemos realmente ao olhar para Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz. Ele Se encarnou com o objetivo de reparar o pecado cometido pela humanidade, de restaurar a glória de Deus e a ordem; e quis fazê-lo através dos tormentos de sua Paixão.

Todos nós pecamos em nossos pais Adão e Eva, além de incorrermos em inúmeras faltas atuais durante a vida, atentando contra a glória do Criador. Ora, sabemos que o Sétimo Mandamento não se viola somente ao roubar o dinheiro ou a propriedade de outrem, mas também ao recusar a glória que a Deus pertence. E se, no primeiro caso, para ser perdoada a transgressão se exige a restituição daquilo que se furtou, não é menos imperioso devolver a Deus a glória que o pecado Lhe negou.

É esta, exatamente, a prova à qual Deus submete as criaturas inteligentes, Anjos e homens: a de nunca julgar seus êxitos e conquistas fruto dos próprios esforços, reputando-se a si mesmos fonte das qualidades que lhes foram concedidas, sejam energia, inteligência ou capacidade de trabalho. Antes, temos de reconhecer que os méritos vêm de Deus, pois é Ele quem nos dá tudo, quer no campo natural, quer, sobretudo, no sobrenatural, como disse Nosso Senhor: “sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

            Santa Teresinha

Neste sentido, a dor é um meio de mover a alma a restituir o que recebeu e de passarmos bem pela prova, ao deixar patente quanto somos contingentes diante de Deus, fazendo-nos voltar para Ele. Nos sucessos, pelo contrário, é fácil fecharmo-nos em nós e, cegos de autossuficiência, esquecermos o Criador, acabando por nos desligarmos d’Ele.

“A enfermidade e o sofrimento” — assegura o Catecismo — “sempre estiveram entre os problemas mais graves da vida humana. Na doença, o homem experimenta sua impotência, seus limites e sua finitude. […]A enfermidade […] pode tornar a pessoa mais madura, ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para voltar-se àquilo que é essencial. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus, um retorno a Ele”. (2) Ademais, o sofrimento é o melhor purificador de nossas almas, já que, através dele, nos arrependemos de nossas faltas, nos confessamos miseráveis e mendicantes da graça e do perdão divino. “Tomar sua cruz, cada dia, e seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitência”.

 

(1) Catecismo da Igreja Católica, 1500-1501.

(2) Idem, 1435.

 

(Trecho do artigo “Jesus, fonte da temperança”, revista Arautos do Evangelho, nº 158, fevereiro de 2015, pp. 10-11. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )

Ilustrações: Arautos do Evangelho.