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Prêmio injusto?

Muitas pessoas costumam associar a ideia de justiça à de igualdade. Dar por igual a todos seria praticar a justiça? Ou, pelo contrário, dar a cada um o que merece é a justiça?

Mas suponhamos que alguém resolva dar igualmente a pessoas com méritos ou esforços diferentes. Isso seria justiça?

Para elucidar devidamente essa questão vejamos o que diz o Mons. João Clá Dias, Fundador e Superior dos Arautos do Evangelho, Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Bolivariana e em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (“Angelicum” Roma).

A misericórdia divina

Mons. João Scognamiglio Clá Dias,EP

A parábola dos operários da vinha foi proferida pelo Divino Mestre em sua última viagem a Jerusalém. Havia ressuscitado Lázaro e, por razões prudenciais resolvera retirar-se.

Seus feitos e palavras espalharam-se rapidamente, embora fossem transmitidas de boca a ouvido e tanto quanto os milagres — e até mais do que eles — eram surpreendentes os seus ensinamentos. Suas palavras caíam como refrescante chuva num arenal sedento, como era o mundo de então, incluindo o povo eleito.

Nessa ocasião dá-se o pronunciamento de Nosso Senhor sobre a indissolubilidade do vínculo matrimonial e a beleza da virgindade (Mt 19,3-12), o encontro d’Ele com as crianças: “Deixai vir a Mim os pequeninos, e não os queirais impedir, porque deles é o Reino dos Céus”(Mt 19,14). Segue-se o episódio do moço rico (Mt 19, 16-26) e a promessa do “cêntuplo nesta terra e ter a vida eterna” (Mt 19,29). Neste ponto se inicia a parábola dos operários na vinha.

A figura da vinha

Ao contrário do que geralmente se supões, a região na qual hoje se incluem a palestina e Israel era, no tempo de Nosso Senhor, extremamente fértil. O panorama muitas vezes árido e desolador de nossos dias é resultante de dois mil anos de lutas e arrasamentos.

Mas ali de fato era um país onde, além de “correr o leite e o mel” e produzir ótimo azeite, cultivavam-se excelentes vinhas, conforme nos atestam as Sagradas Escrituras (Nm 13, 24).

Segundo o grande comentarista Fillion, a ideia dominante na parábola: #Parece ser que Deus, figurado no proprietário rico, cumpre fielmente suas promessas para os que O servem, e que a todos dá, sem exceção em qualquer ponto da vida em que tenham começado seu trabalho, a justa recompensa de todas suas fadigas”#.

Contudo, esse homem reparte seus dons na proporção que lhe apraz. À primeira vista, pareceria uma injustiça o senhor da vinha pagar o mesmo salário tanto para os que trabalharam mais, como para os que menos o fizeram.

Na narrativa, porém, ninguém foi esquecido na hora da distribuição, de modo que não há motivo para queixas, pois: “Cada um deve se satisfazer com o recebido e demonstrar reconhecimento, sem olhar com vista invejosa os que ganharam mais”.

Todos somos chamados à perfeição, não importa em que momento da vida a procuremos

Deus, tal como consta nesta parábola, chama todos à perfeição, apesar de o fazer e horas e circunstâncias diversas da vida. Ninguém deve desanimar, se tiver deixado para muito tarde o preocupar-se com sua salvação, pois para todos a misericórdia de Deus reserva um prêmio.

Mas é necessário atender logo a convocação de Jesus, de modo decidido. Nenhum dos chamados ao trabalho, nesta parábola, chegou a propor um horário mais tardio, mas imediatamente se pôs a trabalhar. Nenhum também recusou. Assim devemos proceder nós: não devemos retardar o nosso “sim” ao chamado do Mestre.

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As citações são tiradas de: L. Cl. Fillion. Vie de N.S. Jésus-Chist, Librarie Letouzay, Paris

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