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O justo por excelência

Para termos noção de quem é o Santo que a Igreja comemora em 19 de Março, São José, são muito úteis algumas considerações feitas pelo sacerdote Arauto do Evangelho, Pe. Mário Beccar Varela, EP (*) transcritos a seguir.

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PERFIL MORAL DO SANTO PATRIARCA

Pe. Mário Beccar Varela, EP

Poucos são os dados diretos que nos referem os Evangelhos sobre São José. No entanto, ao ter sido ele escolhido por Deus para esposo de Maria, a “cheia de graça”, e digno custódio de Jesus, o Verbo Encarnado, não podemos duvidar de ter sido ele provido de dons e virtudes extraordinários, que vão muito além do conciso relato de Marcos e Mateus.

Nesse sentido, Santo Alberto Magno o exalta dizendo: “Fez de seu coração e de seu corpo um templo ao Espírito Santo, no qual ofereceu a si mesmo a Deus e, em si mesmo, a mais perfeita castidade de corpo e alma, no mais aceitável e agradável sacrifício a Deus” ⁽¹⁾.

A Sagrada Família

E o Papa Leão XIII, numa encíclica dedicada a São José, mostra como seu matrimônio com a Santíssima Virgem o fazia partícipe da grandeza dEla:

[José] “é o esposo de Maria e pai legal de Jesus. Dessa fonte mana sua dignidade, sua santidade, sua glória. Certo é que a dignidade de Mãe de Deus chega tão alto que nada pode existir de mais sublime. Mas, uma vez que entre a Santíssima Virgem e José estreitou-se um laço conjugal, não há dúvida de que ele, mais do que qualquer outro, se aproximou daquela altíssima dignidade pela qual a Mãe de Deus supera de muito todas as criaturas. Já que o matrimônio é o máximo consórcio e amizade — ao qual está unida a comunhão de bens — segue-se que, se Deus deu José como esposo à Virgem, não o deu apenas como companheiro de vida, testemunho da virgindade e tutor da honestidade, mas também para que ele participasse, por meio do pacto conjugal, na excelsa grandeza dEla” ⁽²⁾.

O que diz o Evangelho

A passagem mais significativa das Sagradas Escrituras a respeito do esposo de Maria é tomada do Evangelho de Mateus (1, 18-24). Ao percorrê-la, sentimos o estilo claro, breve, exato, musical até, com que os autores sagrados narram as maravilhas da salvação:

“Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua Mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que Ela concebeu por virtude do Espírito Santo”.

Desponsórios de Maria e José

O termo “desposada” merece uma explicação, que nos é dada pelo douto Pe. Ricciotti: “O matrimônio entre os judeus se realizava em duas etapas. O compromisso (em hebraico kiddushin ou erusin) não era uma mera promessa, como hoje, mas um contrato legal perfeito, ou seja, verdadeiro matrimonium ratum. Portanto, a mulher prometida em casamento era esposa em sentido pleno e podia receber o libelo de repúdio. E em caso de morte era verdadeira viúva. Cumprido este compromisso matrimonial, os prometidos-esposos ficavam nas respectivas famílias por certo tempo que era costumeiramente de um ano […] Este tempo era empregado nos preparativos da nova casa e do mobiliário familiar” ⁽³⁾.

“José, seu marido, que era um homem justo…”

“Justo”, na linguagem do Antigo testamento equivale ao termo “santo” aplicado pela Igreja aos que praticaram as virtudes em grau heroico. “Justo” e santo se equivalem.

José jamais duvidou da integridade de Maria

“…e, não querendo difamá-La, resolveu deixá-La secretamente”.

É importante salientar que dentro desta grande perplexidade jamais houve em São José dúvida alguma quanto à santidade de Maria. Esta santidade lhe era evidente, não só por ser notória para qualquer um, mas porque José fora dotado por Deus — uma vez que tinha sido escolhido para ser o pai adotivo de Jesus — com dons especiais para discernir todas as virtudes que adornavam a alma da Virgem das Virgens.

A fé nos leva, portanto, a concluir não ser possível que José tenha duvidado dEla. Nesse sentido, vejamos o que comenta, por exemplo, São Tomás de Aquino: “José não quis abandonar Maria para tomar outra esposa, ou por alguma suspeita, mas porque temia, em sua humildade, viver unido a tanta santidade; por isso lhe foi dito ‘Não temas’ (Mt 1, 20)” ⁽⁴⁾.

“Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, pois nEla o que é gerado é do Espírito Santo”.

Desvendado o mistério, tudo fica claro. É esta uma verdadeira “anunciação” a José, a qual se relaciona harmoniosamente com a Anunciação do anjo Gabriel a Maria ⁽⁵⁾.

O nome Jesus

“Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois Ele vai salvar o seu povo de seus pecados”.

Na lei judaica era, de fato, atribuição do pai, dar o nome ao filho. O mesmo se deu com Zacarias perguntado pelos parentes que nome dar ao seu filho e de Santa Isabel: “João é seu nome” (Lc 1, 63).

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⁽¹⁾ Mariale, q. 51. Apud LLAMERA, Bonifacio. Teología de San José; BAC, Madrid, 1953, p. 160.

⁽²⁾ LEÃO XIII, Encíclica Quamquam pluries, 18 agosto de 1889, n. 3.

⁽³⁾ G. RICCIOTTI, Vita di Gesù. n. 232. Società Grafica Romana, 3a. ed., Turim-Roma, 1947.

⁽⁴⁾ SÃO TOMÁS. Commentarium in Math. 1, 19, apud LLAMERA, B., ibidem, p. 209.

⁽⁵⁾ Cf. JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Redemptoris Custos de 15-8-1989 nn. 4 e 12.

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(*)(Condensado do artigo do Pe. Mario Beccar Varela, EP, “José, varão justo por excelência”, na revista Arautos do Evangelho, nº 75, de março de 2008, pp. 18 a 23)