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POR QUE ESSE SILÊNCIO?

Quem lê os Evangelhos com devido cuidado e merecido respeito, pode, às vezes, perguntar-se por que Nossa Senhora é tão pouco mencionada.

É uma “minúcia”… que contém uma maravilha.

São Luís Grignion de Montfort, o santo que mais profundamente explicitou a devoção a Nossa Senhora, assim nos diz em seu “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”:

“Deus Espírito Santo consentiu que os apóstolos e evangelistas a Ela mal se referissem, e apenas no que fosse necessário para manifestar Jesus Cristo. E, no entanto, ela era a Esposa do Espírito Santo” (1).

Consideremos que Nossa Senhora foi a única que “encontrou graça diante de Deus” para trazer à terra o Messias, Redentor do gênero humano, Deus e Homem. Ela O gerou, O amamentou, fez-Lhe dar os primeiros passos, conviveu trinta anos com Ele, obteve que Ele realizasse seu primeiro milagre, embora “não fosse chegada a sua hora”, nas bodas de Caná. Pouco antes de sua morte na Cruz, entregou-lhe por filha a Igreja e a Humanidade, representadas por São João Evangelista e enviou o Espírito Santo aos Apóstolos por meio d’Ela.

Conforme o mesmo São Luís Grignion, “Deus quis começar e acabar suas maiores obras por meio da Santíssima Virgem, depois que a formou, é de crer que não mudará de conduta nos séculos dos séculos, pois é Deus imutável em sua conduta e em seus sentimentos” (2).

A propósito do silêncio dos Evangelhos sobre Nossa Senhora é muito elucidativo e nos move muito à veneração a Ela, o texto a seguir, publicado na revista “Arautos do Evangelho” deste mês:

“O silêncio do Evangelho em relação a Nossa Senhora

‘Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo’ (Mt 28, 1).

Eram três Marias. Onde se encontra a terceira? Nossa Senhora onde está? Vê-se que tão grande era sua dor, seu recolhimento e sua esperança, que Ela pairava por cima de todas as circunstâncias e de todas as providências concretas, mesmo as mais augustas, até as que mais diziam respeito ao Corpo de seu Divino Filho. Ela estava recolhida, fora e acima de todos os acontecimentos. Por isso, as outras A serviam e faziam por Ela, por mediação d’Ela, por instigação d’Ela, pelas ordens d’Ela, aquilo que Ela mesma quisera fazer.

Devemos imaginar Nossa Senhora num estado excelso de recolhimento, no qual se concentravam toda a dor, todo o júbilo, toda a esperança da Igreja, para serem depois distribuídos para todos os fiéis ao longo de todos os tempos. Por esse motivo, Aquela que, depois de Jesus Cristo, é o centro da Ressurreição — pois sobre Ela todas as alegrias e glórias da Ressurreição convergiram de Nosso Senhor como sobre um foco central —, d’Ela não se diz sequer uma palavra, porque Ela é superior a todo louvor, a toda referência, a qualquer menção. Ela paira acima de tudo.

Cabe-nos apenas pensar nisso e continuar reverentes a narração. Porque na soleira da porta do quarto onde Se encontrava a Virgem Maria não penetrou o cronista do Evangelho, e também nós não somos dignos de penetrar.

Resta-nos somente, do lado de fora, sentir esse perfume da devoção de Nossa Senhora, nos enlevarmos e passarmos adiante. Esta é a razão do silêncio deste trecho do Evangelho a respeito de Nossa Senhora” (3).

(1) SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, ‘Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, Ed. Vozes, Petrópolis, 43ª edição, 2013, nº 4, p. 20.

(2) Idem, nº15, p.27.

(3) PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, Palestra, São Paulo, 5 de abril de 1969.