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PARALELAS SE ENCONTRAM?

Nosso entorno é feito de evoluções, adaptações, transições. E, contudo, há coisas que jamais mudam. As leis universais que regem a natureza, desde que ela existe, são fixas. Os princípios matemáticos sempre se mantêm. Duas retas paralelas, ou nunca se entrecruzam, ou deixam de ser paralelas.

Brincar com as palavras, mudando-lhes o sentido, pode servir para enganar a outros, mas não para alterar a realidade. Assim, um cientista que pretendesse redefinira lei da gravidade segundo suas conveniências não modificaria o comportamento da matéria; apenas induziria ao erro quem seguisse suas proposições…

Ora, a natureza material é espelho das realidades sobrenaturais (cf. Rm1, 20), cujo fundamento é o próprio Deus, absolutamente invariável em Si mesmo (cf. Ml 3, 6), como invariável é também aquilo por Ele estabelecido deforma permanente.

Por exemplo, os Sacramentos. Sendo eles de instituição divina, a Igreja —depositária e dispensadora dos tesouros de Cristo — deve limitar-se a colocarem prática quanto estabeleceu sobre eles o Divino Mestre, não podendo modificá-los (cf. Sacramentum Ordinis, n.1). Qualquer tentativa de fazê-lo seria ilícita, vã e ineficaz.

Isto vale ainda mais para os Mandamentos, aquela Lei claríssima, expressão da verdade (cf. Sl 118, 151), que Deus, além de revelar (cf. Ex 20, 3‑17),ainda imprimiu em nosso interior. A fidelidade a esta Lei era a substância mesma da Aliança que Deus implantou para ser imutável, “desde toda a eternidade”(Sl 118, 152) como diz o Salmo.

Terá Jesus alterado essa doutrina? Poder-se-ia argumentar que assim pensa São Paulo, ao ensinar-nos que a justificação na Nova Aliança já não se dá pela prática da Lei, mas pela fé (cf. Gal 2, 16). Contudo, o próprio Cristo afirma não ter vindo “para abolir a Lei ou os profetas”, mas sim “para levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). Pois, como São Tiago explica: “a fé sem obras é morta”(Tg 2, 26); crer sem obras coerentes é próprio dos demônios (cf. Tg 2, 19).

Quais são, então, as obras de Deus? “A obra de Deus é esta: que creiais n’Aquele que Ele enviou” (Jo 6, 29). E o que ensina Cristo? A cumprir os Mandamentos, cuja integral atualidade Ele reafirma (cf. Mt 19, 18‑19; Mc 10, 19; Lc 18, 20). Mais ainda, esta observância é exigida por Deus como prova do nosso amor (cf. Jo 14, 15).

Consequentemente, ninguém nesta Terra tem poder para mudar o que é pecado. Os Mandamentos não dependem do arbítrio humano, e querer alterara lei moral em função de necessidades concretas significa instituir uma lei que não é a de Deus. A eventual defasagem existente entre essa “minha lei” e a Lei divina pode dar origem a um tremendo susto na hora em que eu morrer. Oxalá possa ele ser sanado no Purgatório…

Neste mundo, tanto na moral quanto na natureza, há realidades imunes à passagem do tempo. Os séculos se sucedem, as sociedades mudam, os homens desaparecem, mas “mais facilmente passará o céu e a Terra do que se perderá uma só letra da Lei” (Lc 16, 17). E Deus, Supremo Juiz, é sempre o mesmo, soberanamente imutável.

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(Transcrito da revista “Arautos do Evangelho”, nº 155, de novembro de 2014, Editorial, p. 5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )

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