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HÁ UM TEMPO PARA TUDO

sol-e-raios-pixabay-editA linguagem evangélica é toda feita de doçura. Pensemos, por exemplo, na parábola do filho pródigo ou do bom samaritano, na imagem da galinha com seus pintainhos, dos lírios dos campos, no sermão das bem-aventuranças…

Contudo, este mesmo Jesus terá às vezes um verbo surpreendentemente duro, que a muitos apraz menos considerar, como quando chama o Templo profanado de “covil de ladrões” (Lc 19, 46) e os fariseus de filhos do demônio (cf. Jo 8, 44); sobretudo quando afirma, contra toda expectativa: “Vim trazer não a paz, mas a espada” (Mt 10, 34)… Ele, o “Príncipe da Paz” (Is 9, 5)! Mais, Cristo ainda ensina que “o Reino dos Céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam”(Mt 11, 12).

Com efeito, desde os brados “Não servirei!”, de Lúcifer, e “Quem como Deus?”, de São Miguel, há uma luta entre o bem e o mal que cruza a História de ponta a ponta e muitas vezes se reveste das aparências de uma constante vitória do mal.sao-miguel

De fato, não parece relatar o Antigo Testamento o repetido fracasso dos planos de Deus? O projeto inicial do Paraíso foi frustrado pelo pecado de Adão, entre cujos filhos se manifesta o crime… Depois do dilúvio, à Aliança feita com Noé segue-se nova infidelidade, na tentativa de construir a Torre de Babel…Visando formar para Si um povo, Deus escolhe Abraão, cujos netos perseguem José… Surge, então, nova Aliança com Moisés, rompida quantas vezes por prevaricações com ídolos, das quais o bezerro de ouro fora mero preâmbulo! Finalmente, Davi parecia ter alcançado uma Aliança definitiva; entretanto, já com seu filho Salomão, os judeus voltaram à idolatria. Sempre o mal venceria o bem, a mentira imperaria sobre a verdade e o feio ofuscaria a beleza?

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Não. Há um tempo para tudo (cf. Ecl 3, 1) e, desde toda a eternidade, reservara-Se Deus o tempo em que se restabeleceria a justiça e triunfaria a santidade: uma leitura atenta do Apocalipse mostra não estar ali apenas uma descrição do fim do mundo, mas também a revelação de um momento anterior no qual Deus vinga sua própria santidade e demonstra o poder de seu braço (cf. Ap 11, 17-18), seguido de um período em que Ele reina (cf. Ap 20, 4-6) e no qual o bem triunfa sobre o mal, a verdade esmaga o erro e o belo resplandece, dissolvendo a feiura.

Só assim tomam sentido certas profecias, como as de Isaías (cf. Is 11, 6-16), que ainda não foram cumpridas.

Longe de ser um Criador que, distante, observa a ruína de seus próprios planos, entregues aos desvarios dos delinquentes habitantes da Terra, Deus governa tudo em sua sabedoria eterna, como “Rei dos reis e Senhor dos senhores”(Ap 19, 16). Nada escapa de seu olhar vingador e justíssimo, tanto para premiar o bem praticado como para castigar as más ações. Chegará, pois, a hora de sua intervenção que, embora terrível, trará depois o gáudio da suprema era da misericórdia e da paz de Cristo, no Reino de Cristo: a paz de Maria, no Reino de Maria.

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(Originalmente publicado na revista “Arautos do Evangelho”, nº 176, de agosto de 2016, p.5. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )

Ilustrações: Arautos do Evangelho, pixabay

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