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Voar sem amarras!

Já deve ter-lhe acontecido: ver um pássaro voando pelo azul do céu e ter uma santa inveja… Parece não está sujeito à lei da gravidade; voa e plana a seu bel prazer!

Haveria na vida humana algo parecido com essa liberdade? Se não como a dos pássaros — uma imponente águia, por exemplo —, o poder voar como os balões?

É possível sim, sobretudo no tocante à vida de pensamento, à vida da alma, ou seja, à vida espiritual. Nela se pode “voar”. Realizar “voos”, no seu gênero mais audazes e mais altos que os das águias.

Entretanto… quantas vezes nos é difícil o simples andar espiritual, o seguir a Jesus: “Quem quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24).

As considerações a seguir, de autoria do Mons. João Clá, Fundador e Superior dos Arautos do Evangelho, dão-nos a “pista” de como voar nos céus da virtude, do amor a Deus e ao próximo. O texto é a introdução do comentário ao chamado de Jesus para segui-lO. ⁽¹⁾

VOAR SEM AMARRAS!

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Amarras e lastros na vida espiritual

Voo de balão – Montgolfier

“Em junho de 1783, os irmãos Joseph-Michel e Jacques-Étienne Montgolfier, filhos de um fabricante de papel de Lyon, conseguiram fazer voar, perante os assombrados olhos dos seus conterrâneos, um grande balão feito de linho, com 32 metros de circunferência. Cheio de ar quente fornecido pela combustão de palha seca, a aparatosa invenção elevou-se várias centenas de metros acima do solo e percorreu em dez minutos uma distância de dois a três quilômetros.

Três meses depois, repetiram com êxito sua experiência no Parque de Versalhes, diante de Luís XVI, Maria Antonieta e toda a corte da França.

Desde então, foi muito aperfeiçoada a técnica de fabricação dos aeróstatos, mas o princípio de seu funcionamento — baseado numa das mais elementares leis da Física — continua inalterado: sendo mais leve, o ar quente tende a subir. Enquanto está sendo enchido de ar, o balão fica preso ao solo por amarras.

Em certo momento, são elas soltas e o engenho inicia sua ascensão, sendo então preciso ir liberando lastros gradativamente para ele poder atingir uma altura maior.

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Devemos cortar as amarras e jogar fora o que nos impede de voar

Esta é uma bela imagem da elevação das almas a Deus. “Aquecidas” pela prática das virtudes, especialmente da caridade, iniciam elas a subida espiritual e começam a “voar”. Costuma haver,porém, em consequência do pecado, amarras que as prendem à Terra e lastros que dificultam seu itinerário rumo à perfeição. É imperioso, portanto, cortar as amarras e alijar os lastros, para o espírito humano poder elevar-se ao transcendente e ao eterno.

À semelhança de nosso corpo, padecem as almas dos danosos efeitos de uma espécie de lei da gravidade espiritual por onde nos sentimos atraídos para o mais baixo, o mais trivial, o que nos exige menos esforço.

Até para as pessoas consagradas existem amarras e lastros, por vezes mais difíceis de soltar do que os dos simples fiéis. Se os religiosos não corresponderem ao convite da graça para viver num patamar mais elevado, poderão sentir uma como que vertigem por onde tenderão a se apegar com especial veemência ao que é terreno.

Em vista dessa nossa má tendência, Cristo nos ensina serem indispensáveis a renúncia e a abnegação, para sermos verdadeiros discípulos seus.

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⁽¹⁾ Mons. João Scognamiglio Clá Dias, O inédito sobre os Evangelhos, Libreria Editrice Vaticana, vol. VI, pp. 326-339.

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