Seremos capazes?
É indiscutível que os tempos mais recentes trouxeram progressos, e não poucos. Teremos progredido em tudo que deveríamos? Especialmente nas coisas mais importantes, naquilo que dá razão de viver?
Conversando recentemente com um pesquisador de assuntos pedagógicos, externava ele uma grave preocupação: as novas gerações de estudantes recebem cada vez menos instrução em todos as áreas. Numa pesquisa referente ao uso dos livros didáticos, é raro o curso que chega à metade das páginas. Há casos em que só 20-30% da matéria — já pobre — é vista, algumas vezes de modo irresponsável.
Em alguns casos, procura-se velar isso com a introdução de matérias em nada úteis para a vida. Só para citar um aspecto, o vocabulário usado é cada vez menor e mais primitivo. Testes de campo mostram a cada ano uma diminuição alarmante das palavras cujo sentido é conhecido.
Para onde vamos?
Um sintoma — aludido por este pesquisador — pequeno na aparência, mas muito eloquente: as crianças escrevem cada vez mais em letra de forma — a que chamam “caixa alta” — e dentro de poucos anos a escrita cursiva a que estamos habituados, em que cada letra emenda-se com a seguinte, será tão indecifrável pelas novas gerações como os hieróglifos do Egito…
A título de curiosidade, transcrevemos um lindo soneto, para a intelecção do qual é necessário certo raciocínio. Mas que verdades sublimes contém!
Soneto a Jesus crucificado
Anônimo, século XVI
Se sois riqueza, como estais despido?
Se onipotente, como desprezado?
Se rei, como de espinhos coroado?
Se forte, como estais enfraquecido?
Se luz, como a luz tendes perdido?
Se sol divino, como eclipsado?
Se Verbo, como estais calado?
Se vida, como estais agonizante?
Se Deus, estais como homem na cruz?
Se homem, como dais a um ladrão,
com tão grande poder, a posse dos Céus?
Ah, que sois Deus e homem, bom Jesus!
Morrendo por Adão enquanto Adão,
e redimindo Adão enquanto Deus.
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Soneto transcrito da Revista Arautos do Evangelho, nº 27, março de 2004, p. 2.
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