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O CORAÇÃO QUE TANTO AMOU

No silêncio recolhido do convento de Paray-le-Monial, na França, Nosso Senhor apareceu a uma religiosa e deu-lhe uma das mensagens mais tocantes depois das que nos deixou no Evangelho. Corria o ano de 1673; a religiosa posteriormente canonizada era Santa Margarida Maria Alacoque.

Numa de suas aparições a Santa Margarida Maria, Nosso Senhor mostrava-se transbordante de luz e com uma expressão repleta de bondade e misericórdia. Apontando seu próprio Coração, Ele transmitiu-lhe esta queixa afetuosa:

“Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou até Se esgotar e consumir para lhes testemunhar seu amor, e que, como retribuição, da maior parte só recebe ingratidões”.

Como essa revelação deveria deixar-nos consternados!

É verdade que Ele nos ama acima de toda medida e que é impossível a cada um de nós, simples criatura, retribuir com igual intensidade. Entretanto,a questão é saber se nós O amamos tanto quanto nos permite nossa capacidade de amar. Certamente, se nos entregássemos por inteiro a seu amor, ajudados por sua graça, nosso coração palpitaria em uníssono com o d’Ele, nós nos enterneceríamos com Ele, sentiríamos como Ele e — porque não? — sofreríamos por Ele.

CORAÇÃO DE JESUS, FORNALHA ARDENTE DE CARIDADE

Assim relata Santa Margarida Maria como lhe foi revelado esse amor:“Uma vez, estando exposto o Santíssimo Sacramento, apareceu Jesus Cristo todo resplandecente de glória, com suas cinco chagas brilhando como sóis, e sua sagrada humanidade lançando labaredas de todos os lados, mas sobretudo de seu adorável peito, que parecia uma fornalha. Abrindo-o, Ele descobriu-me seu amabilíssimo e amantíssimo Coração, que era a fonte viva das chamas. Mostrou-me então as inexplicáveis maravilhas de seu puro amor e o excesso a que tinha chegado no amor aos homens, dos quais só recebia ingratidões e friezas”.

“Foi isso”, disse Ele a Santa Margarida,“o que mais Me doeu de todos os sofrimentos que tive em minha Paixão, ao passo que, se Me retribuíssem com algum amor, consideraria pouco tudo o que fiz por eles. Se fosse possível, quereria ainda ter feito mais. Mas os homens têm apenas frieza e recusa para com todas as minhas solicitudes de lhes fazer bem. Dá-Me tu, pelo menos, esse prazer de suprir-lhes as ingratidões, conforme tuas possibilidades”.

Oxalá esse apelo de Jesus encontre excelente acolhida, não apenas na alma das pessoas especialmente devotas do Sagrado Coração, mas também na de todos os católicos, despertando em cada um o desejo de oferecer a nosso amoroso Redentor digna reparação por tanta frieza. Que cada um, a exemplo de Simão Cireneu, ajude-O a carregar a cruz dos esquecimentos e das ingratidões. Será esta a melhor maneira de combatera tibieza que, às vezes, torna moroso nosso progresso espiritual, ou,pior ainda, nos paralisa num estado de torpor e de enfastiamento em relação às coisas de Deus.

MARIA NOS ENSINA A AMAR O CORAÇÃO DE SEU FILHO

Para avançarmos nesse luminoso caminho, contamos com um auxílio certo e preciosíssimo: a devoção ao Imaculado Coração de Maria, no qual Jesus é incomparavelmente mais amado do que em qualquer outra criatura,humana ou angélica. “Foi vontade de Deus que, na obra da redenção humana, a Santíssima Virgem Maria estivesse inseparavelmente unida a Jesus Cristo”— escrevia o Papa Pio XII. Por isso convém que cada cristão, “depois de prestar ao Sagrado Coração o devido culto, renda também ao amantíssimo Coração de sua Mãe celestial os correspondentes obséquios de piedade, de amor, de agradecimento e de reparação”. ⁽*⁾

Ajudados pela poderosa mediação dessa terna Mãe, penetraremos com maior facilidade no mistério do divino amor, que Ela portou em seu puríssimo seio e alimentou, ao qual contemplou de perto com incêndios de adoração e enlevo.

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(*) Pio XII, Encíclica Haurietis acquas, n. 74.

(Adaptação do artigo “O Coração que tanto amou os homens”, de autoria do Pe. Carlos Werner Benjumea, EP, publicado na revista “Arautos do Evangelho”, nº 54, junho de 2006, p. 17-20)