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IDEIAS DE PEDRA

Terminara a aula de Filosofia. O jovem aluno do Seminário dos Arautos do Evangelho dirigia-se ao recreio com a mente ainda povoada pela beleza da aula ministrada pelo Mons. João Clá, Fundador da instituição.

Em boa parte da aula o Monsenhor explanara os conceitos de São Tomás de Aquino sobre a beleza nos seres da Criação. Mostrara como essa busca do belo — pulchrum, em latim — como modo de se chegar ao conhecimento de outras realidades e do próprio Deus.

Os conceitos de São Tomás, expostos com a clareza e vivacidade próprias ao Mons. João Clá, formavam uma verdadeira “arquitetura”, na qual as ideias se ordenam, se desdobram, lançam luzes sobre vários outros temas. Vários desses conceitos são verdadeiramente luminosos, e, à maneira de um “flash”, esclarecem mil coisas.

Basilica Nossa Senhora do Rosário – Presbiterio

Essas cogitações estavam na mente do jovem arauto, quando ele entrevê um belo ângulo lateral da Basílica Nossa Senhora do Rosário, na qual acabava de entrar. Como aquele arco gótico e seus ornamentos pareciam a realização em pedra e cores do que ouvira na aula de Filosofia. Os altos e luminosos vitrais do presbitério lembravam a clareza luminosa dos pensamentos de São Tomás. A harmonia e o encadeamento dos vários elementos decorativos pareciam-se com as explicitações do “mais sábio dos Santos e o mais Santo dos sábios”.

Ao sair, via nos arcos botantes que sustentam a nave, as demonstrações que São Tomás da, fundamentando suas afirmações. As torres pareciam-se com as conclusões que remetiam para Deus.

Arcos botantes – Sustentam as ogivas da nave

Isso tudo levou nosso jovem a sugerir que postássemos o texto que segue, publicado na revista “Arautos do Evangelho”. (1)

ARQUITETURA, FILOSOFIA E PASTORAL

La filosofia è quella cosa con la quale o senza la quale il mondo va tale e quale” [A filosofia é aquela coisa com a qual ou sem a qual o mundo vai tal e qual]. Com este pitoresco dito, os italianos exprimem sua inapelável, e talvez sensata, sentença a respeito das escolas de pensamento que abstraem do fato concreto e, sem nunca pôr os pés em terra, constroem complexos sistemas cada vez mais etéreos, obscuros e contraditórios. Incompreensíveis, enfim.

Mas, será sempre deste modo? Não poderá haver filosofias que estejam inseridas na realidade palpável do dia-a-dia, influenciando a vida dos homens, mesmo sem eles se darem conta?

Colunata dorica

Com efeito, as pessoas têm sua mentalidade e seu modo de ser fortemente condicionados pelo ambiente no qual vivem e pela filosofia que nele impera. Em consequência, novos costumes, novas instituições e até civilizações surgem em conformidade com aquele ambiente e aquelas ideias.

Não é verdade que a moda, a arte, a cultura e inclusive os estilos arquitetônicos, em geral, refletem a filosofia predominante no momento?

Restringindo-nos ao terreno da arquitetura, um olhar na História parece corroborar, pelo menos em linhas gerais, esta hipótese. As colunatas dóricas, por exemplo, não seriam uma expressão do pensamento clássico? Versalhes e o racionalismo: que regras gerais, comuns a um e outro, poderiam ser identificadas? A mesma questão se pode colocar em relação ao existencialismo e à arquitetura dita moderna.

Palácio de Versalhes

A Igreja do início da Idade Média, depois do longo período das catacumbas e das perseguições que povoaram de mártires o Céu, estava construindo uma nova civilização. Sua reflexão ainda não delimitara com nitidez os campos da filosofia e da teologia, o que só se daria nos séculos XII e XIII. Foi aquele também o tempo da arquitetura românica, tão recolhida, tão forte, tão própria a favorecer o encontro da alma com Deus, mas cautelosa em relação às alegrias que as criaturas podem nos proporcionar.

É de outra índole a mensagem que a catedral gótica transmite. Esguia, desafiando a força da gravidade em busca da maior leveza, favorecendo a luz e as cores, e procurando destacar o pulchrum, ela atrai para o bem, harmonizando a fé e a razão. Cada um desses edifícios, com seu peculiar e inconfundível estilo, provoca exclamações de admiração e de arrebatamento, nos eleva ao transcendente e nos estimula a procurar a Deus.

Não é também o que encontramos na filosofia escolástica? Não é o que, especialmente São Tomás de Aquino, nos ensina? Então, podemos nos perguntar: que relações há entre o estilo gótico e a Escolástica?

Todas essas reflexões, cabe notar finalmente, abrem para nós uma dimensão pastoral não desprezível, a qual precisamos levar em conta, para alcançarmos frutos na evangelização, sobretudo com as novas gerações.

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(Revista “Arautos do Evangelho”, nº 99, março de 2010, p. 5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl, Sérgio Holmann, Wiki, WordPress