O BELO AVESSO
É raro encontrar quem não tenha alguma vez contemplado o céu em seus dias mais belos. Seu azul profundo ou às vezes suave; nele as nuvens parecem brincar de constituir as formas mais imaginativas e belas.
Olhando céus assim, Santa Terezinha do Menino Jesus, chama-os “o belo avesso do Céu”. “Céu”, com maiúscula, pois ela se refere ao Céu dos Bem-aventurados.
Parece que Deus quis deixar fragmentos semelhantes desse avesso ao alcance de nossas mãos: são as safiras, tão abundantes em várias partes de nosso Brasil.
A GEMA QUE SIMBOLIZA O AZUL DO CÉU
Ir. Isabel Cristina Lins Brandão Veas, EP
Nos últimos capítulos do Apocalipse, São João nos convida a imaginar a Jerusalém Celeste, o “tabernáculo de Deus com os homens” (21, 3), edificado sobre um conjunto de colunas translúcidas e coloridas, cujo brilho decorre da glória divina. E, ao descrever mais adiante os muros que a rodeiam, o Evangelista faz notar que “os alicerces da muralha da cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas”(21, 19).
Levando em consideração que nas Sagradas Escrituras nenhum detalhe é supérfluo, poderíamos deter nossa atenção em qualquer um dos preciosos minerais sobre os quais se sustenta a feérica construção e, refletindo sobre seu significado mais transcendente, chegar a elevadas conclusões. Nenhum deles, entretanto, parece estar tão carregado de simbolismo quanto a safira, que São João menciona como o segundo fundamento da nova Jerusalém.
Embora esta gema apresente variações róseas, lilases, verdes e até douradas, sua cor típica é o azul. Um azul lindíssimo, às vezes suave, às vezes mais profundo, que parece concentrar em cada uma dessas pedras a vasta gama de tonalidades que é possível se admirar no céu. Dir-se-ia, sem lugar a dúvidas, tratar-se do mais belo azul que existe em toda a ordem da criação.
Contemplar uma safira serena os ânimos agitados, desperta sentimentos de pureza, harmonia e temperança, e afugenta o mal. Santa Hildegarda de Bingen atribui a esta pedra a virtude de favorecera inteligência e não falta quem lhe outorgue o poder de conceder a sabedoria.
O azul da safira a correlaciona também, de modo singular, com a ideia de nobreza. Ela figurava nas insígnias de altos cargos eclesiásticos e era usualmente empregada na confecção de ornamentos reais. A coroa do Império Austríaco, por exemplo, conservada no Tesouro Imperial de Viena, é encimada por uma safira de tamanho generoso, que simboliza “o nexo entre o Sacro Império e o Céu”. (1)
Nada, porém, supera o fato de ser esta a gema que melhor representa certos aspectos da alma de Maria Santíssima, Rainha do Céu e da Terra, à qual a Igreja chama de “Cælica Sapphiri — Safira Celestial”. (2)
Se a esmeralda é imagem da esperança e o rubi, do amor a Deus, a safira nos recorda a suavidade e a compaixão da Virgem Serena, que “está disposta a nos obter o perdão de seu Divino Filho, mesmo para nossas piores faltas; alcança-nos as graças necessárias para nossa emenda, nossa salvação, e, assim, brilharmos diante d’Ela por toda a eternidade”. (3)
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(1) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Amais bela coroa do mundo. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano XV. N.176 (Nov. ,2012); p.32.
(2) COMISSÃO DE ESTUDOS DE CANTOGREGORIANO DOS ARAUTOSDO EVANGELHO. Liber Cantualis. São Paulo: Salesiana, 2011, p.135.
(3) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Razão de nossa serenidade. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano VIII. N.91 (Out. ,2005); p.44.
(Publicado originalmente na revista “Arautos do Evangelho”, nº 161, p.50-51. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl, freepickcom.