LIÇÕES DE UM SILÊNCIO
As Sagradas Escrituras – tanto o Antigo como o Novo Testamento – são inspiradas pelo próprio Espírito Santo. Essa verdade é bem conhecida. As pessoas conhecem mais ou menos o que está escrito, mas poucos cogitam sobre o que os escritores sagrados não dizem.
Exemplifiquemos com algo que muitos gostariam de ter a descrição: a vida de Jesus antes de sua missão pública. Esse silêncio pode trazer-nos tantas lições quanto o que está dito. Uma delas é analisada sucintamente no texto a seguir, de autoria de um diácono Arauto do Evangelho.
A VIDA OCULTA DE JESUS EM NAZARÉ
Diácono Lucas Garcia Pinto
Os Evangelhos nada relatam sobre a vida diária no lar da Sagrada Família em Nazaré. E poucos detalhes nos transmitem dos principais episódios da infância de Jesus, como a Apresentação, a adoração dos Reis, a fuga para o Egito ou a perda e encontro do Menino Jesus no Templo. Apenas São Lucas, após narrar esta cena, faz referência à vida oculta de Nosso Senhor, resumindo-a nesta curta frase: “Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso” (Lc 2, 51).
Com base em diversas passagens dos Santos Evangelhos, podemos compor alguns aspectos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo em Nazaré. No início de sua vida pública, vê-se que Ele era conhecido como “Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo 1, 45; Lc 4, 22). Na sinagoga da sua cidade natal, os judeus se perguntam: “Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua Mãe?” (Mt 13, 55). E segundo São Marcos, os nazarenos O conheciam como “o carpinteiro, o Filho de Maria” (Mc 6, 3).
Portanto, com base nas palavras da Escritura, sabemos que Jesus era, não apenas “filho do carpinteiro”, mas carpinteiro Ele próprio. Bela lição de humildade e despretensão! O Homem-Deus, que com um simples ato de vontade poderia criar quantos universos quisesse, exerceu uma humilde profissão de trabalhador manual!
Mais ainda: na casa de Nazaré, o “maior se submete ao menor”. ⁽*⁾ Maria Santíssima,venerada como Senhora e Rainha por todos os Anjos, obedecia a seu esposo e, por outro lado, exercia autoridade materna sobre o Filho do Altíssimo. E São José, reconhecendo embora a superioridade insondável de Maria e a infinita de Jesus, dava ordens e conselhos à Sabedoria Eterna e Encarnada. O Evangelista não deixa dúvida a este respeito: Jesus “lhes era submisso” (Lc 2, 51).
Fazendo-Se Homem, sujeitou-Se às “mesmas provações que nós, com exceção do pecado”(Hb 4, 15), deixando-nos assim um exemplo a seguir (cf. I Pd 2, 21).
⁽*⁾ ORÍGENES. Homiliæ in Lucam. Homilia XX:MG 13, 1852.
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(Publicado no boletim “Amigos das vocações”, nº 5, maio de 2015, p. 3, editado pelos Arautos do Evangelho)
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Sergio Myiazaki