Entrevistando Mons. João Clá
Na imprensa europeia — e mesmo de outros lugares — está se tornando hábito serem publicadas “entrevistas” de personalidades utilizando-se de obras publicadas por estes. Em tais “entrevistas” as perguntas são feitas em função de textos de autoria dos “entrevistados”.
Assim foi feita esta entrevista.(1)
SÃO JOSÉ: QUEM O CONHECE?
Entrevistador – Mons. João, poderia nos contar como nasceu a ideia de escrever a vida de São José? Sua obra está despertando vivo interesse por quantos a leiam e gostariam de saber como a ideia floresceu em sua alma.
Guardo viva lembrança do encanto manifestado por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira ao ser-lhe presenteada, em dezembro de 1992, uma pequena imagem de São José, muito digna e bem feita. Naquela ocasião ele ressaltou que a reprodução correspondia à ideia que sempre tivera acerca do Santo Patriarca: de um lado, cheio de doçura, paternalidade e afeto em relação ao Menino Jesus, mas, de outro, um autêntico senhor, forte, capaz de governar; em síntese, um varão na plenitude do termo. A própria atitude de Jesus Infante era muito inocente, pois demonstrava total confiança em São José. Ele dormia em seus braços como que dizendo: “A ele Eu posso entregar-Me por inteiro”.
Entrevistador – Impressiona ver como Dr. Plinio, de uma simples imagem, descreve a personalidade de São José. A que o senhor atribui isso?
A descrição feita por Dr. Plinio era fruto de uma graça mística de discernimento da alma de São José, que então lhe fora concedida. A partir dessa data, intensificou seus comentários sobre o casto esposo de Nossa Senhora, incentivando seus filhos espirituais a crescerem na admiração e na confiança nele.
Entrevistador – E no senhor, como foi crescendo essa admiração?
Anos mais tarde, acometido por uma grave enfermidade pulmonar, viajei para os Estados Unidos, a fim de consultar especialistas. As dores e os incômodos eram tais que faziam pressagiar a proximidade da morte. Era inverno, e a vegetação estava coberta por uma espessa camada de neve. A ausência de vida a marcar a natureza só era amenizada pelos pinheiros, sempre verdes, os quais ainda deixavam ver algo de suas ramagens por baixo da gélida alvura que os envolvia.
Da janela do quarto, podia-se contemplar uma imagem de São José posta no jardim. Sentindo chegar o fim, fitava-a pensando: “Ali está São José. Espero encontrá-lo na eternidade, não por meus méritos, mas pelo preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual se unem as lágrimas de Nossa Senhora e também as dores do próprio São José”.
Entrevistador – Passou-se com o senhor o que se costuma chamar uma “palavra interior”, algo como que dito por São José?
À medida que fixava o olhar na imagem experimentei uma consolação muito intensa, que desfechou numa voz interior a dizer: “Não se aflija! Antes que as flores comecem a nascer, você estará curado”. De fato, passado certo tempo, após os mais variados exames os médicos se impressionaram ao constatar sua total cura, sem sequela alguma.
No dia 26 de abril do mesmo ano, já restabelecido, caminhava pela casa rezando o Rosário, quando vi a primeira flor da primavera. Então lembrei-me emocionado da promessa de São José: fora curado antes de as flores desabrocharem!
Entrevistador – Essa confirmação despertou no senhor algum propósito, alguma consideração sobre São José?
Nascia aí uma profunda e crescente devoção ao glorioso Patriarca, toda feita de enlevo por sua pessoa e missão. Posteriormente, ao longo de diversos estudos sobre São José, o Autor deu-se conta de quão desconhecido era esse extraordinário Santo, surgindo em seu interior o veemente desejo de escrever um livro a fim de compor sua autêntica fisionomia moral e conduzir os filhos da Santa Igreja a essa sublime devoção, sinal de predileção e via segura para os braços maternais de Maria Santíssima.
Entrevistador – Vê-se que o livro é fruto dessa graça. Foi essa sua intenção em publicá-lo?
Após muitas vicissitudes e não poucas dificuldades, ofereço o fruto de minha piedade e contemplação. Há muito, caro leitor, desejava compartilhar essa maravilha!
Trata-se do varão puríssimo e forte chamado a custodiar, educar e proteger o Pão dos Anjos, nascido de Maria Virgem em Belém e presente até o fim dos tempos em todos os sacrários da terra. Sem São José, esse altíssimo mistério não se teria dado. Esta obra se baseia no testemunho infalível dos Evangelhos, nos Santos Padres e nos teólogos e exegetas mais abalizados na matéria. É também ilustrada com alguns pormenores extraídos de revelações privadas, como as da Beata Ana Catarina
Emmerick, CSA, da Venerável Maria de Jesus de Ágreda, OIC, da Serva de Deus Maria Cecília Baij, OSB, e outras, sem pretensões de rigor histórico, selecionadas em harmonia com os mais firmes princípios teológicos estabelecidos no decorrer dos séculos.
Entrevistador – A obra não é uma mera biografia nem um tratado de teologia sobre São José. Qual o caráter que o senhor quis dar à obra?
Procurei aliar a sólida doutrina, exposta de forma fundamentada, clara e ortodoxa, a uma leitura amena, mas útil para cultivar importantes aspectos de nossa Fé. Espero, assim, mover os espíritos à degustação sobrenatural dos mistérios e das virtudes de São José e elevar sua figura à altura que o sensus fidelium, [sentido dos fiéis] soprado pelo Espírito Santo, sempre desejou, dando à piedade católica a força e a substância da verdadeira Teologia.
Entrevistador – Qual a relação que o senhor estabelece do incremento da devoção a São José com os nossos dias?
Escrevi estas páginas impelido pela íntima convicção interior de que a atuação de São José no terceiro milênio há de ser decisiva. Não foi por acaso que, na última aparição de Nossa Senhora em Fátima, os pastorinhos viram-no abençoar o mundo por três vezes. (*) O alcance profético dessas bênçãos ainda está por ser explicitado, mas, sem dúvida, elas marcarão os acontecimentos vindouros e terão um papel determinante para o cumprimento da promessa feita pela Santíssima Virgem na Cova da Iria: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.
(1) Baseada na Introdução da recente obra de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, “São José: quem o conhece?”, ed. Instituto Lumen Sapientiae e Arautos do Evangelho, São Paulo, 2017. Pequenas adaptações foram feitas, basicamente passar para a primeira pessoa o que o Autor coloca em terceira.
(2) Cf. IRMÃ LÚCIA. Memórias I. Quarta Memória, c.II, n.8. 13.ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007, p.181.
Ilustrações: Arautos do Evangelho
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