Amores inseparáveis
Assim como não é possível separar dois lados de uma moeda, ou o calor do fogo, assim também há dois amores inseparáveis na alma de todo católico digno deste nome: o amor a Deus e o amor à Igreja.
O próprio Nosso Senhor estabelece esta unidade de dois amores num só, ao perguntar a São Pedro, o primeiro Papa: “Pedro tu me amas?”. Ante a resposta afirmativa, Jesus acrescenta, como quem quer uma prova deste amor: “Apascenta as minhas ovelhas”.
Como vê este amor uma grande santa?
Em concreto, Santa Teresa de Jesus, cuja memória a Igreja celebra em 15 de outubro, um dos pilares da reforma da Igreja no século XVI, grande mística, cujas obras escritas maravilham os que as leem nos séculos posteriores.
O PURO AMOR A DEUS
Uma poesia, conhecida como “O poema do puro amor de Deus” nos dá o quilate desta alma de fogo:
Não me move meu Deus para amar-vos
o Céu que me tendes prometido;
nem me move o inferno tão temido
para deixar por isso de ofender-te.
Move-me tu, Senhor, move-me ver-te
cravado nessa cruz e escarnecido
move-me ver teu corpo tão ferido;
move-me as afrontas que sofrestes e tua morte.
Move-me, por fim, teu amor, e de tal maneira
que, ainda que não houvesse Céu eu te amaria,
e, ainda que não houvesse inferno, te temeria.
Não tendes que me dar porque te ame,
pois, ainda que o que espero não esperasse,
o tanto que te amo, te amaria.
O AMOR À IGREJA
Santa Teresa tinha inseparável do amor a Deus o amor devido à Igreja. A teologia chama a Santa Igreja “a esposa mística de Cristo”. Dai vem o ardor com que pede a Deus:
“Pai Santo, que estais nos Céus, não sois ingrato para que pense eu que deixareis de fazer o que Vos suplicamos, para a honra de vosso Filho.
Não por nós, Senhor, que não o merecemos, mas pelo Sangue de vosso Filho e por seus merecimentos, e os de sua Mãe gloriosa, e os de tantos Mártires e Santos que morreram por Vós.
Ó Pai eterno! Vede que não se podem esquecer tantos açoites e injúrias e tão gravíssimos tormentos. Pois, Criador meu, como podem entranhas tão amorosas como as vossas sofrer que seja tido em tão pouca conta o que se fez com tão ardente amor de vosso Filho?
O mundo está pegando fogo, querem tornar a condenar a Cristo; pretendem demolir a sua Igreja: desmantelados os templos, perdidas tantas almas, abolidos os Sacramentos.
Pois que é isto, meu Senhor e meu Deus? Ou dai fim ao mundo, ou remediai tão gravíssimos males, que não há coração que o sofra, mesmo os nossos, que somos tão ruins.
Suplico-Vos, pois, Pai Eterno, que não o sofrais também Vós: atalhai este fogo, Senhor, pois se quereis, podeis; algum meio há de haver, Senhor meu: aplique-o vossa Majestade.
Tende pena de tantas almas que se perdem, e favorecei vossa Igreja. Não permitais ainda mais danos à Cristandade. Senhor, dai já luz a estas trevas. Já, Senhor!
Fazei que sossegue este mar; não ande sempre em tanta tempestade esta nau da Igreja. E salvai-nos, Senhor meu, que perecemos”.
Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Igreja, que nos obtenha este duplo amor que se funde num só: o amor ardente a Deus e, não menos ardente, o amor pela Igreja. Tanto mais que temos a promessa infalível de Jesus: “as forças do inferno não prevalecerão contra Ela”… por mais esforços que façam seus inimigos, declarados ou velados; com ou sem pele de ovelha… ou, às vezes, com pele de pastor…
[Vide: Obras Completas de Santa Teresa de Jesus, Ed. Loyola, São Paulo, 1995]
Ilustrações: Arautos do Evangelho,
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