Plano muito bem traçado
Ao lermos os Evangelhos podemos não nos dar conta da sabedoria divina usada por Jesus, por exemplo, na escolha dos locais onde pregou. Por que escolheu a Galileia para a maior parte de sua pregação e milagres? Mons. João Clá, EP, Fundador dos Arautos do Evangelho nos explica no texto a seguir.
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A ESTRATÉGIA EVANGELIZADORA DE JESUS
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Ao estudar a vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo, podemos comprovar a existência de um plano de apostolado muito bem traçado, lógico e coerente. Depois de quase trinta anos de vida oculta e da primeira fase de sua vida pública, chegado o momento de começar as suas mais importantes pregações, devia o Salvador escolher um centro estratégico a partir do qual anunciaria aos homens o Reino de Deus.
Rejeitando Jesus da maneira mais vil, a ponto de desejar matá-Lo, os moradores da pequena cidade onde Se havia criado, Nazaré, se tornaram indignos de continuar convivendo com “o filho de José” (Lc 4, 22). Entretanto, mesmo que a acolhida tivesse sido respeitosa, era improvável que Ele permanecesse ali, em razão de sua localização desfavorável: isolada no fundo de um vale, em região de difícil acesso e pouco povoada, ficava distante das zonas mais importantes da Galileia.
CAFARNAUM: A CIDADE DE CRISTO
Quis Nosso Senhor estabelecer-Se próximo das grandes vias de comunicação: “Quando, pois, Jesus ouviu que João fora preso, retirou-Se para a Galileia. Deixando a cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum” (Mt 4,12-13).
Situada ao leste da Galileia, nas terras que haviam pertencido às tribos de Zabulon e Neftali, a cidade contava, nos tempos evangélicos, entre 15 e 20 mil habitantes, e constituía o núcleo comercial dos arredores. Aos seus pés, o Lago de Genesaré — conhecido também como Mar da Galileia ou ainda Mar de Tiberíades —, com cerca de 21 km de comprimento por 12 km de largura, abundava em peixes e era sulcado, todos os dias, por centenas de barcos de pescadores que singravam suas límpidas águas.
Às margens erguiam-se numerosas outras cidades, como Betsaida, Tiberíades, Magdala, sendo esta última, então com 40 mil almas, a mais prestigiosa dentre elas. Cafarnaum encontrava-se em um lugar particularmente fecundo — a Galileia era considerada o celeiro da Palestina —, que serviria como fonte de inspiração das belas parábolas do Divino Mestre.
Nenhuma outra região de Israel parecia tão apropriada para receber a doutrina de Nosso Senhor, “pois os galileus do lago, apesar do trato com milhares de estrangeiros, tinham conservado a simplicidade dos seus pais. Viviam tranquilos do produto da pesca e esperavam pelo novo reino pregado por João Batista”. ⁽1⁾ Por essa razão foram as palavras de Jesus mais bem acolhidas nos prados e sinagogas da Galileia do que no Templo de Jerusalém.
Além disso, por sua condição fronteiriça e mercantil, e graças à proximidade de diversas estradas importantes — dentre as quais a Via Maris, que unia a Síria ao Egito —, Cafarnaum oferecia muitas vantagens ao Redentor. Sem sair dela, podia instruir não só os seus conterrâneos, como também os numerosos estrangeiros que transitavam por esse movimentado entroncamento de caminhos.
Ali “faziam alto os mercadores da Armênia, as caravanas de Damasco e da Babilônia, carregadas com os produtos do Oriente, as guarnições romanas que marchavam para a Samaria ou para a Judeia e as multidões de peregrinos que nos dias festivos subiam à Cidade Santa. Aqueles mercadores, soldados, pagãos e peregrinos rodearão a Jesus nas margens do lago e recolherão, de caminho, os seus divinos ensinamentos”. ⁽2⁾
Todas estas características fizeram de Cafarnaum a cidade de Cristo, como nos é referida pelo Evangelho (cf. Mc 2, 1; 9, 33). A partir dela começou Nosso Senhor a pregar a iminência do Reino dos Céus e a necessidade de conversão.
Ele libertava os possessos, restituía a saúde a epiléticos e paralíticos, curava todo tipo de doenças, e, em consequência, sua fama crescia a cada dia. Além de galileus, acompanhavam-No grandes multidões vindas da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e das localidades do outro lado do Jordão (cf. Mt 4, 23-25).
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⁽1⁾ BERTHE, CSsR, Augustin. Jesus Cristo, sua vida, sua Paixão, seu triunfo. Einsiedeln: Benziger, 1925, p.112.
⁽2⁾ Idem, p.112-113.
(Compartilhado da revista Arautos do Evangelho, nº 146, fevereiro de 2014, p.11-12. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, gaudiumpress, Gustavo Krajl