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Retrato de Jesus?

Como gostaríamos de ter uma fotografia de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Numa palestra, Mons. João Clá, EP, Fundador e Superior dos Arautos do Evangelho, explicava a razão mais elevada do porque Jesus não quis deixar registrada a sua imagem.

Foi uma razão de divina pedagogia: nos mais variados lugares onde chegou o Evangelho, os fiéis iam formando interiormente uma imagem de como teria sido o Divino Mestre. Sem haver comunicação entre si, os artistas que pintaram Jesus põem na sua imagem características muito semelhantes.

Existe, porém, uma descrição contemporânea de Jesus? O tema é discutível. A mais conhecida descrição seria a de um alto funcionário romano, Publio Lentulus. Há exemplares datando do século II, mas por outro lado há em lugares distintos, algumas diferenças no texto.

Será autêntico? Não se pode ter certeza como também não se pode negar pura e simplesmente.

Como dizem os italianos, “si non è vero, è e bene trovato”, — se não é verdadeiro. É bem achado”.

Eis alguns trechos. Julgue o leitor.

* * *

“Senador Publius Lentulus, da Judeia ao César Romano:

Soube, ó César, que desejavas ter conhecimento do que passo a dizer-te.

Há aqui um homem chamado Jesus, a quem o povo chama Profeta e os seus discípulos afirmam ser o Filho de Deus, criador do Céu e da Terra.
Realmente, ó César, todos os dias chegam notícias das maravilhas deste Cristo. Para dizer-te em poucas palavras, dá vista aos cegos, cura doentes, surpreende toda Jerusalém.
Belo e de aspecto insinuante, é um homem de justa estatura, e a sua figura é tão majestosa que todos O amam irresistivelmente. (…)

O olhar de paz é profundo e grave, com reflexos nos olhos de várias cores e o mais surpreendente é que resplandecem! As pupilas parecem os raios de sol. Ninguém pode fitar-lhe o rosto deslumbrante.

O seu porte é distinto. Possui encantos e atrai olhares. Tão belo o quanto pode um homem ser belo. Ele é o mais nobre que imaginar se pode e muito semelhante à sua Mãe, a mais formosa figura de mulher que até hoje apareceu na Terra.
Nunca foi visto sorrindo, mas já foi visto chorando várias vezes.(…) Faz-se amigo de todos e mostra-se alegre com gravidade, e quando é visto em público, aparece sempre com grande simplicidade. Quer fale, quer opere, fá-lo sempre com elegância e sobriedade. Toda a gente acha a conversação dEle muito agradável e sedutora.

Fala um idioma de misterioso encanto e as multidões, compostas de judeus e de naturais da Capadócia, Panfília, Cirene e de outras regiões, ficam perplexos ao ouvi-lO, pois cada qual O ouve como se fosse no próprio idioma pátrio.(…)

Apesar de nunca ter estudado, é senhor de todas as ciências. As multidões seguem-Lhe os passos, quase todos buscam tocar-Lhe a vestidura, pois dEle emanam irradiações virtuosas que curam moléstias pertinazes. Ele produz espontaneamente um clima elevado de paz, que atinge a quantos lhe gozam a excelsa companhia. Anda com a cabeça descoberta e quase descalço e a sua túnica alvíssima combina com sutileza de seus traços delicados.(…)

De sua figura singular, extraordinária de beleza simples, vem um que diferente que arrebata as multidões, e essas serenam, ouvindo as suas promessas sobre um eterno reinado.

Os hebreus dizem que nunca viram um homem semelhante a Ele, cuja sabedoria excede a dos gênios. Nunca ouviram conselhos idênticos, nem tão sublime doutrina de humildade e de amor como a que ensina este Cristo. Amável ao conversar, torna-se temível quando repreende, mas mesmo nesse caso, revela segurança e serenidade. É sobretudo sábio, modesto e muito casto. É um homem, enfim, que por suas divinas perfeições excede os outros filhos dos homens.