UM HERÓI COM PLUMAS
Numa cerimônia militar de grande pompa, o herói da 77ª Divisão de Infantaria do exército norte-americano recebe a Croix de Guerre pelo valoroso serviço prestado em solo francês durante a Primeira Guerra Mundial. Os soldados sobreviventes da mesma divisão prorrompem em aplausos. Ao longo do ato, o protagonista mantém um ar despreocupado. Tendo agido sem pensar em prestígio, é indiferente às honras. Tal modéstia lhe convém, pois, ainda que se estique, sua altura máxima não passa de poucos centímetros.
Ir. Elizabeth Veronica MacDonald, EP
Este singular condecorado é Cher Ami, o pombo-correio que salvou o “Batalhão Perdido” da famosa Batalha da Floresta Argonne. Será que a sua mensagem tem alguma relevância para nós?
A desventura do“Batalhão Perdido”
Após quatro anos de ferrenho conflito, os franceses, os ingleses eoutros Aliados estão num impasse com as Potências Centrais. Um fator importante, porém, pesa em seu favor: o espírito de luta do inimigo já está quebrado. Eles aproveitam esta hora crítica para desencadear a Ofensiva dos Cem Dias ao longo da Frente Ocidental. Seu desfecho vitorioso, no dia 11 de novembro de1918, assinala o fim da guerra.
Neste grande embate, destaca-se o empreendimento de nove companhias americanas da 77ª Divisão de Infantaria: trata-se de 554 soldados, que, sob as ordens do alto-comando, haviam feito um rápido avanço no interior da perigosa Floresta Argonne, na França. As unidades dos flancos, porém, não conseguiram acompanhar esta manobra. Como resultado,a 77ª Divisão ficou isolada, presa numa ravina, e circundada por forças alemãs. Por seis dias os soldados resistiram, lidando com a escassez de comida, água e munição, bem como com os repetidos ataques inimigos.
“Cher Ami” ao resgate!
Naqueles idos tempos, existiam poucos meios para enviar um pedido de socorro numa situação como aquela. O Major Charles W. Whittlesey despachou mensageiros, mas estes soldados ou se perderam ou foram capturados pelo inimigo. Recorreu então a seu pequeno estoque de pombos-correios. Devido ao forte senso de direção dessas aves, poderia confiar que elas retornariam ao quartel da divisão, carregando uma mensagem vital. Enviou duas delas, mas foram atingidas por balas alemãs.
A situação chegou ao limite quando o batalhão começou a ser bombardeado pelas suas próprias forças, que ignoravam sua posição. Em tal apuro, Whittlesey rabiscou um terceiro bilhete: “Estamos junto à estrada do paralelo 276,4. Nossa artilharia está derrubando uma barragem que está bem em cima de nós. Pelo amor de Deus, parem!”.
Restava apenas uma ave: Cher Ami, que significa Querido Amigo em francês. Ela já havia sido usada na região de Verdun para levar 11 importantes mensagens. A de 4 de outubro de 1918 seria a derradeira. O bilhete foi enrolado, inserido num pequeno tubo e fixado no pé da pomba. Ao levantar voo por entre a folhagem ,houve uma rajada de artilharia. Tombaram cinco homens. Caiu também a ave. Mas, com um furioso bater de asas, conseguiu retomar o caminho…Vinte e cinco minutos depois, 40 km atrás da linha de frente, o soldado de plantão no Signal Pigeon Corps ouviu o tilintar de uma sineta indicando que uma das aves havia retornado ao pombal. Era Cher Ami: prostrado, sangrento, com o peito perfurado por uma bala, cego de um olho, com uma pata estraçalhada. Mas de sua pata ferida pendia uma mensagem…
Devido à ação daquela ave, o bombardeio parou de imediato, e o socorro se pôs a caminho para auxiliar os 194 soldados restantes da 77ª Divisão. Para os eufóricos sobreviventes, Cher Ami tornou-se uma mascote: cumulavam-no de cuidados, e quando sucumbiu aos ferimentos, um ano mais tarde, o empalharam e arrumaram-lhe um lugar de destaque na seção militar do Smithsonian Institution, em Washington.
(Parte do artigo “Ao vosso Nome dai glória”, publicado na revista “Arautos do Evangelho”, nº 181, janeiro de 2017, p. 34-35. Dados tirados de LAPLANDER, Robert J. Finding the Lost Battalion. 2.ed. Waterford: Lulu. 2007. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui )