Felicidade: onde estais?
“A busca da felicidade tem sido a causa de muitas infelicidades” diz o adágio. Sobre esse tema é o artigo do Mons. João Clá, Fundador dos Arautos do Evangelho, publicado a seguir.
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A VERDADEIRA PROCURA DA FELICIDADE
Mons. João Scognamiglio Clá Dias
Quem se detivesse a fazer uma breve análise das pessoas do próprio meio ou até de outras menos próximas – incluindo antepassados, personagens históricos, figuras destacadas no contexto mundial hodierno ou de outrora –, perceberia que, apesar da diferença de mentalidade, aptidões ou estilo de vida, é possível nelas distinguir um traço comum, norteador de seus atos: o desejo de ser feliz.
Entretanto, apesar de todos, sem exceção, procurarem a felicidade com infatigável ardor, muitos chegam ao fim de seus dias sem a terem encontrado… Qual será a causa desses esforços frustrados?
O problema é que “todos querem ser felizes e nem todos desejam viver do único modo como se pode ser feliz”, (*) observa Santo Agostinho. Ao invés de orientar sua existência para Deus, Bem supremo e fim último do homem, único Ser que sacia por completo esta aspiração, muitos são ludibriados pelo mundo e acabam trilhando vias paralelas ao verdadeiro caminho. Nunca serão felizes, pelo simples fato de seguirem um itinerário que não conduz a Deus.
Alguns, por exemplo, enredam-se nas ilusões do dinheiro. Veem o equilíbrio financeiro como sinônimo de prestígio, poder e influência na sociedade, bem como garantia de um futuro despreocupado. Não é raro, porém, que a existência de quem muito possui tenha características bem diversas de uma estável tranquilidade, sobretudo quando entesouram para si mesmos e não são ricos para Deus (cf. Lc12, 21). Vivem na insaciável ambição de acumular cada vez mais – pois quem “ama a riqueza nunca se fartará” (Ecl 5, 9) – e, quanto maior for a opulência, tanto maiores serão suas aflições para administrá-la e conservá-la.
Já para outros, a ilusão será a ciência. Aspirando a dominar assuntos de difícil compreensão para o geral das pessoas e obstinados pela ideia de serem laureados pela erudição, consomem o tempo em estudos, pesquisas e escritos.
Fazem do saber a finalidade última da existência, esquecendo-se de que ele é apenas um meio dado por Deus ao homem para conhecê-Lo melhor e remontar a considerações mais elevadas. Por ser limitado, o conhecimento humano jamais satisfará a sede de felicidade da alma, que anseia pelo Infinito.
Por isso, muitos intelectuais, mesmo sendo aplaudidos pelo mundo, terminam seus dias na amargura. E, às vezes, esses falsos caminhos levam não só à frustração, como também ao absurdo.
É o que se verifica em nossos dias, por exemplo, com pessoas que se submetem a dietas rigorosas para se adequarem aos padrões de beleza física impostos pela moda. Julgando que se sentirão plenamente satisfeitas com os elogios e a admiração provocada por uma exagerada magreza, prescindem não só do nobre prazer do paladar temperante, mas inclusive da saúde.
Em casos extremos, essa enganosa via da felicidade torna-se uma talho para abreviar a própria vida…
(*) SANTO AGOSTINHO. De Trinitate. L.XIII, c.4, n.7. In: Obras. Madrid: BAC, 1956, v. V, p.712.