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De fatia em fatia

Alguns dias atrás, pondo em ordem uns papeis, encontrei uma página de revista no alto da qual alguém escrevera em tinta vermelha: “COMO SE CHEGA AO FUNDO DO POÇO”. Pareceu-me útil trazer ao conhecimento dos frequentadores desse Blog alguma coisa do tal artigo.

Era a entrevista com um jovem de seus 25 anos, condenado à prisão perpétua. Depois de uma série de delitos chegara a cometer uma seguidilha dos chamados crimes hediondos. Adianto aos leitores que não era na Nova Zelândia nem numa escola em Suzano…

A certa altura o entrevistador perguntou o que o levou a cometer esses crimes. Teria sido algum trauma na família, a vingança por algo, etc. Pois, “para chegar onde chegou, já no começo deve ter havido algo de muito grave” — dizia o entrevistador.

O jovem condenado respondeu:

— Tudo começou quando, acompanhando minha mãe ao mercado, roubei uma… maçã. Afinal, ninguém estava vendo e era tão pouco… Algo — como se fosse uma voz interior — dizia: “É só isso! Depois você nem pensa mais”. Depois… Bem… depois fiz outra pior no colégio. Depois… Bem… não vou repetir o que todo mundo ouviu no meu julgamento. Cada vez a ideia que me vinha, era: “É só isso!”. De cada vez “era só isso”. Agora… bem… o que fiz todo mundo sabe; saiu pela televisão, pela internet, pelos jornais…

A GRANDE ILUSÃO: “É SÓ ISSO!”

Deixei o papel de lado e veio-me à mente uma observação feita pelo Mons. João Clá, Fundador dos Arautos do Evangelho: O demônio — e seus sequazes —, para levar alguém ao extremo do mal, nunca mostra para onde quer levar; apresenta apenas o próximo passo: “É só isso!”. E dava uma figura: ninguém come um salame em grandes pedaços; come em fatias finas. Aliás, quanto mais finas, mais saborosas parecem… No final a pessoa está só com aquele barbantinho na extremidade do salame…

E vem o pior: uma aparente impossibilidade de voltar atrás.

A pessoa esquece que, se recorrer a Deus, realmente arrependido e desejoso de corrigir-se, Ele sempre o ajudará. Especialmente se pede por meio de quem Ele veio a nós: nossa Mãe, Maria Santíssima.

Maria está sempre disposta a nos ajudar. Ela quer muito mais o nosso bem do que nós mesmos. Conforme afirma São Luís Grignion de Montfort ela ama a cada um de nós — portanto também a mim, a você — mais do que se somássemos o amor de todas as mães do mundo por um só filho.

Confiança, portanto. E… vigilância: sempre que nos vier à cabeça “É só isso!” lembremos que é apenas uma fatia — talvez fina — de um “salame” chamado “mundo”.

 

Ilustrações: Arautos do Evangelho, pixabay