Como um astro luminoso
Sobre o Canto Gregoriano, comentava o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Assim é o gregoriano: a música que tem a qualidade incomparável de exprimir a atitude perfeita, o exato grau de luz da alma reta e verdadeiramente inocente quando se coloca diante de Deus. Cântico do murmúrio, música da alma inocente, dessa inocência que, aliada à Graça Divina, construiu as maravilhars de uma civilização “gregorianizada”. Procure ter o seu temperamento no estado de espírito do canto gregoriano e terá encontrado uma via certa para a santificação!”
Quando temos diante de nós um céu bem estrelado, e venturosos admiramos os astros que ali estão a brilhar, é ou não é verdade que, por vezes, somos pervadidos pela seguinte expectativa: “será que verei uma estrela cadente?” E não é para menos, pois tal fenômeno cósmico raramente acontece.
Entretanto, imaginemos que isso se desse – caso possível fosse – ao revés. Ou seja, não presenciássemos o desaparecimento, mas o surgimento de uma estrela! Bem podemos pensar que magnífico seria se, a compassados instantes que olhássemos para a abóbada celeste, deslumbrássemos um novo astro luminoso.
Pois bem, analogamente, a cada momento que tomamos conhecimento de algum episódio relacionado a um santo, nada mais é do que um novo brilho que cintila no “firmamento de nossos corações”, convidando-nos à pratica do bem.
Destarte, propõe-se contemplar a vida de São Gregório Magno (540), cuja festa hoje celebramos, toda palmilhada de “constelações de virtudes”, capazes de iluminar a todos os que quiserem ser banhados pelos raios de luz tão esplêndida, cujas magnificências serão relatas no presente artigo (ao menos, algumas delas).
Viveu ele no século VI, época permeada de terríveis conturbações, merecedora por suas próprias palavras desta afirmação: “Sou obrigado a… gemer sob as espadas dos bárbaros invasores e temer os lobos que rondam o rebanho sob minha guarda”. Ou ainda:“Estou disposto a morrer antes de ser causa de ruína para a Igreja de Pedro. Acostumei-me a sofrer com paciência; mas, uma vez decidido, lanço-me com ânimo resoluto em direção a todos os perigos”. (1)
Eleito Sumo Pontífice no ano de 590, sendo antes Prefeito de Roma, empregou seus contínuos esforços em busca da propagação da Fé Católica, tendo por leit motif o desenvolvimento do monacato, confiado aos beneditinos, com vistas à formação de monges capazes de cristianizar, futuramente, vastidões inimagináveis!
Sobre o fruto dessa ação evangelizadora, comenta-nos Montalembert que: “Eles os farão instrumentos do bem e da verdade. Ajudados por esses ‘vencedores de Roma’, levarão o império e as leis de uma ‘Nova Roma’ muito além das fronteiras que o Senado fixou ou que os Césares imaginaram”. (2)
Como dado histórico que também nos confirma seu ímpeto no referido engenho, fundou ele mesmo sete mosteiros com a herança que lhe coubera após a morte de seu pai, um poderoso Senador.
Outro fato que marcara a existência deste varão, deu-se ainda antes mesmo de ocupar a Cátedra de Pedro. Grassava em Roma, por consequência dos estragos causados por uma grande enchente do rio Tibre, uma terrível peste. Morriam inúmeras pessoas na Cidade Eterna, destacando-se entre elas até mesmo o Romano Pontífice, Pelágio II, seu predecessor.
Ordenara então uma grande procissão pelas ruas da cidade; e qual não foi a surpresa dos fiéis quando avistaram, pairando ao alto do mausoléu de Adriano, o Arcanjo São Miguel! O Príncipe das Milícias Celestiais guardava sua espada de fogo, indicando, assim, que terminava o flagelo ocasionado pela peste. A partir disso, a referida fortaleza passou a ser denominada por “Castelo de Sant`Ângelo”. (3)
Por fim, ao menos nesse pequeno relato de sua vida, salta-nos aos olhos um outro marco de seu apostólico desejo de santificação e conversão das almas. Certo dia, estava ele andando pelo mercado marítimo de Roma quando, em determinado momento, avistou ancorado no porto um navio cheio de escravos provenientes das terras do norte, mais propriamente da Britânia.
Perguntando, pois, de onde vinham, obteve como resposta que eram anglos. Como que, numa visão profética, o grande Pontífice retrucou: “Non angli, sed angeli sunt!” (não anglos, mas sim anjos!). Assim, após comprar a todos esses escravos, colocou-os sob os cuidados de Santo Agostinho, futuro arcebispo de Cantuária, Inglaterra, para que fossem batizados após lhes ser ensinada a doutrina católica, com vistas à evangelização de sua terra natal e ministrado o Canto Gregoriano (estilo de canto litúrgico que leva o seu nome, cuja inspiração para as composições recebeu do próprio Espírito Santo). De tal modo isso se deu que, segundo nos narram as crônicas, mais de 10 mil neófitos foram batizados no dia de Pentecostes de 597.(4)
Enfim, que belo reflexo aqui se reporta Àquele que, como Pontífice Divino, comprou com os méritos de sua Paixão “um navio abarrotado de escravos do pecado”. Sim, éramos como mercadoria variada não fosse a Redenção. Nosso Senhor Jesus Cristo nos comprou por um preço não pequeno, mas verdadeiramente enorme: o derramamento de todo o seu preciosíssimo Sangue na Cruz! Que a exemplo de São Gregório, Santo Agostinho de Cantuária e de seus “anjos”, saibamos recorrer a Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos e Corredentora da humanidade, para levarmos a cabo a nossa missão!
(1) Liturgia das Horas. Tempo Comum: 18ª – 34ª Semana. v. IV, Editora Vozes – Paulinas – Paulus – Editora Ave Maria, 1999, p. 1246.
(2) Montalembert. Les moines d`Ocident, 1878, p. 74.
(3) Obras de São Gregório Magno, BAC: Marid.
(4) Ibdem.
Conheça mais sobre a vida dos Santos: clique aqui e acesse a Plataforma Reconquista.