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RESGATADO DA LAMA

As agências noticiosas divulgaram há pouco um fato que nos deve alegrar o coração: a restauração de uma obra de arte sacra muito ligada a São Francisco, o pobrezinho de Assis.

Há poucas décadas uma enchente do Rio Arno devastou as cidades ribeirinhas. Entre algumas das obras de arte danificadas estava um dos primeiros exemplos da iconografia franciscana: o famoso crucifixo, obra do conhecido pintor Cimabue.

Crucifixo pintado por Cimabue – Restaurado após enchente do Rio Arno

Após a restauração, passou a ser conservado no museu da Basílica de Santa Cruz, em Florença, sendo abençoado pelo Arcebispo, Cardeal Dom Giuseppe Betori.

Stefania Fuscagni, responsável pela manutenção da Basílica, declarou à Rádio Vaticana: “É o regresso a uma sacralização, ou melhor dito, uma reconsagração de uma obra (…) colocada no local onde o visitante pode respirar a sacralidade. Sem espírito religioso,aquela obra de arte não teria sido feita”.

São Francisco, que pregava a pobreza, não poupava meios para louvar a Deus, e como consequência, seguindo o conselho do Fundador, a Ordem Franciscana edificou igrejas das mais fastuosas entre as da Cristandade.

Ao percorrermos Assis, encontramos lugares intensamente marcados pelas virtudes de São Francisco. São como um perfume de santidade que confere ao ambiente um ar de sobrenatural que se irradia até mesmo pela natureza.

Parece-nos ver e ouvir o Pobrezinho de Assis entoando seu Cântico das Criaturas, no total despego dos bens deste mundo: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre,porque deles é o Reino dos Céus!”(Mt 5, 3).

Basílica de São Francisco de Assis

A Basílica de Assis abriga sua sepultura e reflete o espírito deste varão de sóbrio aspecto, inflamado de zelo pela beleza. Tal como sua alma, o prédio é austero em sua exterioridade, mas esplendoroso em seu interior. Em meio à exuberância das cores e das luzes dos magníficos vitrais, seus arcos góticos e sua majestade apontam para o alto, levando o visitante a uma atitude de enlevo e adoração.

As paredes do templo, repletas de encantadores afrescos, registram inúmeros fatos da vida daquele que, a par da pobreza para si e para seus discípulos desejava para o culto toda riqueza e grandiosidade.

O esplendor do templo atende aos rogos do Santo Fundador a seus filhos espirituais: “supliqueis aos clérigos que sobre todas as coisas honrem o Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo […]. Os cálices, os corporais,os ornamentos do altar, tudo quanto pertence ao Sacrifício,tenham como coisas preciosas. E se, nalguma parte, o Santíssimo Corpo do Senhor estiver com muita pobreza abandonado, que eles, como manda a Igreja, O coloquem em lugar precioso e bem guardado”. (1)

POBREZA, ELEGÂNCIA E BELEZA

O pobrezinho de Assis, desejava essa beleza não só para os templos e objetos sacros, mas para os próprios discípulos. Nesse sentido, um conhecido franciscano, autor de uma ampla biografia do Santo (2) transcreve o seguinte trecho anotado pelo piedoso Frei Leão, um dos primeiros discípulos de São Francisco:

“Anota bem isso, Irmão Leão: o Irmão Menor [modo como São Francisco se referia aos franciscanos] deve ser pobre e elegante ao mesmo tempo. Limpeza, ordem e beleza são atributos de quem venera a cadeira que se senta. Um verdadeiro pobre é um nobre. Os vulgares não são pobres. Cortesia, Irmão Leão, não só para as pessoas, mas também para as coisas”.

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(1) SÃO FRANCISCO DE ASSIS, “Primeira Carta aos superiores dos conventos franciscanos”, nº 2-4. In: Escritos.Braga: Franciscana, 2001, p.100-101.

(2) INÁCIO LARRAÑAGA, OFM, “O irmão de Assis”, Ed. Paulinas, São Paulo, 20ª edição, 2012, p. 464.


Ilustrações: Arautos do Evangelho, Hugo Grados, Yorck Project.