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Ubi Petrus ibi Ecclesia

     O Vigário de Cristo é lembrado de um modo mais especial no dia 22 de Fevereiro pelo orbe católico, por ocasião da festa da Cátedra de São Pedro. Esta celebração teve início no século IV, como sinal de unidade fundada sobre o príncipe dos apóstolos por Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt. 16,19).

     Mas, qual o motivo de se celebrar uma cátedra? O que ela significa? Não parece mais apropriado homenagear a pessoa do papa à sua cadeira? Contudo, é mais grandioso e submisso celebrar a festa da Cátedra de São Pedro porque se celebra a autoridade do papado, e este enquanto tendo uma cátedra infalível que se dirige ao mundo inteiro. Pois, nos diz Santo Ambrósio: “Onde está Pedro está a Igreja”.[1]

     Até onde chega essa autoridade? Assim afirma Dr. Plinio: “O Papa é o ponto de atração de todas as inteligências e de todos os corações. Sua Majestade, sublime e excelsa entre todas, supera o humano e atinge o divino. Por isso não se poderia imaginar um homem com tal poder, cair em erro, em matéria de fé e moral. Então, é dada ao Papa a graça única da Infalibilidade, por onde ele não consegue cair em erro”.[2]

     Ora, de tal maneira a Igreja Católica está vincada à Cátedra de São Pedro que onde não há a aprovação do Papa não há Catolicidade. O verdadeiro fiel sabe que o Papa resume e compendia em si toda a Igreja Católica […]. Porque tudo quanto há na Igreja de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural, tudo isto, mas absolutamente tudo sem exceção, nem condição, nem restrição está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de São Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as tradições mais santas, as pessoas mais conspícuas, tudo enfim que mais genuína e altamente possa exprimir o Catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se torna nulo, maldito, estéril, digno do fogo eterno, e da ira de Deus, se separado do Romano Pontífice. […] para nós, entre o Papa e Jesus Cristo não há diferença. Tudo que diga respeito ao Papa diz respeito direta, íntima e indissoluvelmente a Jesus Cristo.”[3]

     Portanto, a festa da Cátedra de São Pedro é de suma importância para toda a Igreja, e nos mostra o quanto a pessoa do Papa é o elo entre o céu e a terra. E aqueles que não o seguem em sua bondade paternal, desviam-se dos princípios evangélicos, se afastando do caminho da salvação.

     Agradeçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo a instituição desta cátedra infalível, que é propriamente a coluna do mundo, porque se não houvesse infalibilidade, o mundo estaria perdido.


[1] SANTO AMBRÓSIO, in: ROHRBACHER, vida dos Santos. Vol. II, São Paulo: ed. das Américas,1959.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Legionário, Março,1942.

[3] Idem.1944.

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Os Benefícios do Jejum

     Sabiamente celebrados pela Santa Igreja, os tempos litúrgicos são de inestimável riqueza. Dessa forma, a doutrina católica explica que são mais benéficas às almas as cerimônias litúrgicas nas quais participam, do que até mesmo os documentos pontifícios.

     Ora, com o fim de cumprir com o preceito divino da penitência, é na quaresma que a Igreja, com mais insistência, recomenda a prática do jejum.

     Na atualidade, muitos são os que a consideram antiquada e incômoda. Contudo, o próprio Nosso Senhor jejuou quarenta dias antes de iniciar sua vida pública (Mt 4,2) e recomendou-o aos seus discípulos na luta contra o demônio (Mt 17,20).

     Além das recomendações do próprio Homem-Deus, que já seriam suficientes, há ainda os benefícios próprios do jejum. Santo Agostinho afirma que o jejum purifica a alma, eleva o espírito, submete a carne ao espírito, torna o coração humilhado e contrito, dissipa as trevas da concupiscência, extingue os ardores do prazer e acende a luz da castidade.[1]

     Assim, o que nos pede a Igreja neste tempo penitencial, é que nos privemos de alguns bens corporais em prol de um princípio superior, visto que a natureza própria da penitência é a detestação do pecado por ser ofensa a Deus.[2] Por conseguinte, nos mostra doutor Plinio que “A verdadeira alegria da vida não consiste em ter prazeres, mas sim na sensação de limpeza da alma que temos quando olhamos o sofrimento de frente e dizemos ‘sim’ para ele.”[3]


[1] Cf. SANTO AGOSTINHO, in. MARÍN, Antonio Royo. Teologia Moral para Seglares. Moral fundamental y especial. Madrid: 2007. p. 396.

[2] Cf. Sacrosanctum Concilium n.109.

[3] CORREA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 14 de setembro de 1964.

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Por que somos tentados?

     No primeiro domingo da quaresma, a liturgia da Igreja nos apresenta um tema muito comum na vida dos homens: a tentação! Há muitos que desconhecem ou não tem presente ao espírito, a verdadeira natureza e o caráter das tentações. Todos têm suas tentações, e muitas. E, entre os diversos caminhos pelos quais Deus conduz as almas escolhidas, está a vereda das tentações.

     A tentação é o caminho pelo qual todos devem trilhar. Passam por entre multidões de tentações, atravessando uma após outra, e cada qual excede a anterior em fealdade. O fato de poder Deus fazer consistir o caminho da perfeição também em tentações lança, no entanto, considerável luz sobre o porquê da tentação em geral. Em suma, como disse São Thiago, é necessário que haja tentações, pois não poderá ser coroado aquele que não batalhar varonilmente (Cf. Tg. 1,12), e a tentação é um excelente adversário; não existem ao acaso, mas são inerentes à condição humana; não se cruzam no ar como balas sobre um campo de guerra, pois cada tentação já tem sua coroa preparada, se a alma corresponder à graça e alcançar a vitória.

     Assim disse o sábio: “Filho, se queres servir a Deus, conserva-te na justiça e no temor e prepara-te para a tentação (Eclo. 2,1).” E ainda: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? (Jó. 7,1)”. Depois do pecado de Adão o homem só descansará das guerras espirituais no Céu, pois no dizer de São Jerônimo sobre a passagem “Tempo de guerra e tempo de paz” (Eclo. 3,8), enquanto habitamos neste mundo é tempo de guerra, quando passarmos ao outro, será tempo de paz.[1] Assim, nessa terra será sempre tempo de peleja enquanto a morada do homem for uma tenda corruptível e mortal.

     Contudo, muitas são as pessoas que se queixam amargamente de suas tentações, visto que elas se apresentam sob as formas mais diversas: atração, desejo, repulsa, desagrado, lentidão, omissão, negligência e precipitação. Em virtude disso, afetam todas as ordens: deveres de estado, classes sociais, orgulho, pureza, justiça, piedade etc.

     As tentações podem ser interiores, quando nascem dos sentidos livres e indisciplinados, quer das paixões ardentes e desregradas da concupiscência desordenada pelo pecado original; exteriores, quando por ação diabólica ou não, causam deleitações as riquezas, as honras, as afeições mal concebidas e as distrações; ou uma e outra ao mesmo tempo. Quanto às que participam das duas naturezas, possuem os atrativos de ambas. Em síntese são polimórficas.

     Vistas, porém, sob certo aspecto, todas as tentações consistem numa aliança entre o que está dentro e o que está fora do homem. Nem todas as tentações provêm do demônio, todavia deve-se receá-lo e ter uma ideia clara das funções terríveis e malignas que lhe atribui a Escritura, pois, como diz São Pedro: “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como leão a rugir, procurando a quem devorar” (1Pd. 5,8).

     No entanto, as tentações constituem matéria prima para a glória; saber governá-las é tão importante quanto governar um império e requer vigilância ainda maior.[2]Por grandes que sejam as aflições e os desgostos que as tentações possam causar à alma, é, em geral, dom de Deus não ser preservada delas. Por três vezes implorou São Paulo que lhe fosse tirado o aguilhão que o atormentava. Contudo, a resposta recebida de Deus, “basta-te a minha graça” (Cf. 2Cor. 12,7-10), mostra quão precioso é o dom da tentação, ou a permissão divina pela qual se é tentado.


[1] Cf. SÃO JERÔNIMO, in. RODRÍGUEZ, Alonso. Ejercicio de Perfección y Virtudes Cristianas. Tomo II. Madrid: 1930. p. 463.

[2] Cf. WILLIAM FABER, Frederick. Progresso na vida espiritual. Rio de Janeiro: Editora Vozes Ltda, 1947. p. 252

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Pilares da vida religiosa: pobreza, castidade e obediência

No dia 13 de janeiro, iniciou-se mais um Curso de Férias dos Arautos do Evangelho! A abertura deu-se com uma solene Missa celebrada na basílica de Nossa Senhora do Rosário.

A cada semestre os Arautos do Evangelho elegem um tema que servirá para a formação de todos os participantes do encontro. Desta vez, o tema escolhido foi: “a vida religiosa”.

No primeiro dia, a abordagem foi sobre a pobreza religiosa. Foram apresentados vários teatros, entre eles a vida de São Martinho de Tours, a conversão do grande São Francisco de Assis e o episódio de Ananias e Safira com São Pedro, narrado nos Atos dos Apóstolos.

Já no segundo dia, foi a beleza da virtude angélica da castidade. Numa atrente palestra ministrada pelo Pe. Mauro Sérgio dos Arautos do Evangelho. Vimos que Deus quer perto de Si certos homens com um chamado especial, os quais ele chama à vida religiosa. Foram encenadas as histórias de São José, varão castíssimo; São Luís de Gonzaga, padroeiro da juventude; e de Balduíno IV, Rei de Jerusalém.

No terceiro dia, assistimos a um concerto na basílica de Nossa Senhora do Rosário, a fim de conhecermos mais um pouco desta arte tão bela que é a música. O coro e orquestra eram compostos por mais de 80 jovens músicos. Com a intenção de presentear todas as unidades dos Arautos que alí presentes, confeccionaram-se belíssimos estandartes com o símbolo do padroeiro de cada comunidade.

No quarto dia do Curso de Férias, tratou-se sobre a obedencia. Para tal, foi-nos encenada uma belíssima peça teatral retratando a criação e a prova dos anjos.

O quarto dia, entretanto, foi um pouco diferente. Depois de conhecerem bem a importância dos três pilares da vida religiosa, o expositor levantou um debate a propósito da obediência: deve-se obedecer em todas as hipóteses, ou não?

Rapidamente, o auditório se dividiu em vários partidos que, a todo custo, lutavam por sua “bandeira”. Foram constituídos grupos de estudo para solidificar seus argumentos em torno de um ponto em comum. Após este preparo, iniciou-se um debate. Todos puderam expor seus argumentos, utilizando de fontes como os Padres da Igreja, Catecismo da Igreja Católica, doutores e moralistas, bem como fatos da vida do fundador dos Arautos do Evangelho, Monsenhor João Clá.

Conclusão: quem obedece nunca erra, exceção feita de uma ordem que leve ao pecado.

Passados os cinco primeiros dias do encontro, já havíamos lucrado muitos ensinamentos. Foi-nos então apresentada, em forma de teatro, uma estória de cunho catequético, criada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, para explicar como é a prova que o homem deve passar aqui na Terra.

Nesse conto, um rei sofre a perda de sua esposa e de seu filho por causa de uma doença que os acometera. Certo dia, porém, enquanto ouvia o salmo responsorial da Santa Missa, recebeu um sinal da providência…Sua descendencia não acabaria!

Contudo, ele tinha ainda algumas dúvidas… E, enquanto caminhava para a residência do Cardeal, o povinho se acotovelava para ver o monarca. Em certo momento, ouve-se um brado de aclamação dado por um jovem detentor de grande veneração pelo rei. Essa voz fez-lhe lembrar o filho que perdera.

O rei perguta-lhe sua idade e o menino responde: “Quatorze anos, senhor meu rei”. E o rei diz: “Era a idade que meu filho teria se estivesse vivo”…

O Rei tem uma enorme afeição pelo jovem e, com a permissão do pai, convida-o para ser seu filho e herdeiro do trono! O pequeno Miguel de então tornara-se o “príncipe Miguel”. Aprende os costumes da corte, o manuseio das armas, as ciências matemáticas e naturais, as letras, etc.

Passados dois anos de convívio, o rei ficou apreensivo com o futuro de seu novo filho. Apesar de confiar em suas qualidades, restava ainda saber se o Príncipe Miquel possuía um amor verdadeiro pelo rei. Decidiu, então, pô-lo a prova com a intenção de examinar a pureza de intenção do futuro rei. O jovem se portou excelentemente bem, sem, todavia, resolver os almejos que o soberano levava em seu coração.

O rei manda chamar seu filho nos aposentos reais e inflige-lhe uma última e dura prova. Um oficial de alto posto fora preso pelo adversário. Para libertá-lo, precisariam fazer alguma tratativa com os inimigos. Por isso, o monarca ordena que o príncipe se ofereça como prisioneiro no lugar do graduado militar. O príncipe, com grande dor, aceita tudo e parte rumo a missão, mas, quando estava para cruzar o portão do palácio… O rei manda chamá-lo e recebe-o com todo afeto, pois ele havia passado a última prova com total perfeição.

Realiza-se, então, a cerimônia de coroação do principe.

Como aplicação deste último teatro, podemos concluir que Deus faz tudo conosco para nos provar e purificar aqui na terra, para depois gozarmos das alegrias no céu!

Para finalizar o congresso, realizou-se um jantar de despedida com cerca de 650 pessoas. Foi servida uma excelente pizza feita pelos próprios arautos e, no fim, depois do sorvete, uma lembrança foi dada a todos os participantes do curso.

Sem dúvida, essa viagem de férias foi ocasião de inúmeras graças para nossos jovens capixabas.

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Sempre jovem e padroeiro da juventude

“A Jornada Mundial da Juventude em Madrid renovou nos jovens o chamado a serem o fermento que faz a massa crescer, levando ao mundo a esperança que nasce da fé. Sede generosos ao dar um testemunho de vida cristã, especialmente em vista da próxima Jornada no Rio de Janeiro”.

Essa convocação foi feita pelo Papa Bento XVI no anúncio do lema da Jornada Mundial da Juventude Rio2013: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19), durante a audiência geral no dia 24 de agosto de 2011.

Aproximando-nos desse evento que reunirá no Rio de Janeiro este ano milhões de fiéis, convém que saibamos bem o que é ser jovem.

Ao consultarmos um dicionário encontraremos no verbete “juventude” a seguinte definição: “Parte da vida do homem entre a infância e a idade viril: o brilho da juventude. Estado de uma pessoa jovem. Fig. Energia, vigor, viço”.

Mas hevará um sentido a mais na “juventude” que uma simples passagem entre duas fases da vida?

O conhecido escritor americano de origem alemã, Samuel Ullman (1840-1924), em seu famoso poema Youth (Juventude), soube traduzir esta cativante questão tão bem solucionada pelo ensino cristão:

“A juventude não corresponde a um período de nossa vida, mas sim a um estado de espírito, uma resultante da vontade, um predicado da imaginação, uma intensidade emotiva, uma vitória da coragem sobre a timidez, do gosto pela aventura sobre o amor ao conforto.

Não envelhecemos por termos vivido um certo número de anos. Ficamos velhos porque desertamos nosso ideal.

Os anos enrugam a pele; renunciar a um ideal enruga a alma. As preocupações, as dúvidas, os temores e os desesperos, eis os inimigos que, lentamente, nos fazem inclinar rumo à terra e tornar-nos pó antes da morte.

Serás tão jovem quanto tua fé; tão velho quanto tua dúvida. Tão jovem quanto tua confiança em ti mesmo; tão velho quanto teu abatimento.”

Com estas vistas sobrenaturais, bem compreendemos como o mestre da juventude, São João Bosco, caminhou com tanta segurança, alegria e mesmo ufania nas vias da velhice. O corpo envelheceu, mas o espírito permaneceu jovem, por estar sempre voltado para o supremo ideal, que é a glória de Deus e o bem do próximo.

 

Fontes:
Revista Arautos do Evangelho – nº 71 – novembro 2007
Site da JMJ Rio2013 – http://www.rio2013.com/pt

 

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“Tu és toda formosa e em Ti não há mácula”

Numa das maiores das solenidades litúrgicas da Santa Igreja, onde celebramos o dom singular da Imaculada Conceição de Maria Santíssima, encontramos, sob a pena de Santo Afonso de Ligório, uma magnífica explicação sobre o porquê conveio à Santíssima Trindade que Nossa Senhora fosse concebida sem a mancha da culpa original.

 1. Conveio a Deus Pai, por ser Maria sua Filha primogênita. Além do mais, Maria fora destinada por Deus para esmagar a cabeça da serpente infernal. Como poderia, pois, permitir que Maria fosse primeiro escrava do demônio? Sendo ainda Nossa Senhora advogada dos pecadores, não poderia Ela ser acusada de cúmplice, participando do mesmo crime.  

 2. Conveio que o Filho tivesse uma Mãe Imaculada. Ele mesmo A escolheu por Mãe. Não se pode crer que um filho, podendo ter por mãe uma rainha, a quisesse escrava. Como então imaginar que o Verbo Eterno, podendo ter uma Mãe Imaculada e sempre amiga de Deus, A quisesse manchada e algum tempo inimiga de Deus?

 3. Conveio ao Espírito Santo que a sua Esposa predileta ficasse imaculada. Sendo decretada a Redenção dos homens, caídos no pecado, quis que esta sua Esposa fosse remida de um modo mais nobre, preservando-A de cairem pecado. Se Deuspreservou da corrupção o corpo morto de Maria, quanto mais não devemos crer que preservasse a alma da Virgem da corrupção do pecado?

 

 Fonte: Pe. Thiago Maria Cristini, C. SS. R., “Meditações para todos os dias do ano tiradas das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja”, Herder e Cia., tomo I, págs. 431 – 434, Friburgo em Brisgau, Alemanha, 1921.