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Santiago de Compostela, cidade nascida de uma devoção


O cabo Finisterre, situado no litoral da Galiza, era o lugar no qual, para os antigos, terminava a terra conhecida e começava o misterioso e insondável Oceano Atlântico. Muito perto dali, encontra-se um dos centros de peregrinação mais visitados da Cristandade.


Autora Irmã Mariana Arráiz de Morazzani, EP

Santiago de Compostela, o milagroso sepulcro do Apóstolo São Tiago

Santiago de Compostela é um dos raros exemplos de cidade que nasceu graças à devoção de dezenas de milhões de peregrinos. De fato, sua história confunde-se com a das peregrinações, desde que no Campus Stellae (Campo da Estrela), como é chamado o local, foi encontrado milagrosamente o sepulcro do Apóstolo São Tiago.

A vida do santo, uma das mais belas da hagiografia cristã, seria suficiente para explicar por si mesma a imensa atração que suas relíquias têm exercido sobre o mundo católico.

Segundo a tradição, depois de Pentecostes os primeiros discípulos se dispersaram para pregar o Evangelho. São Tiago o Maior era primo de Nosso Senhor e irmão de São João. Foi chamado também por Jesus de o “filho do trovão”, devido a seu temperamento fogoso. Talvez por isso lhe correspondera evangelizar a Península Ibérica, uma das regiões mais remotas do mundo daquele tempo.

Após conturbada travessia marítima, o apóstolo desembarcou na Ria de Arousa e passou sete anos levando a palavra do Divino Mestre àquelas regiões. No ano 44, voltou a Jerusalém, onde foi preso por ordem de Herodes, que mandou matá-lo à espada, tornando-se assim o primeiro mártir entre os apóstolos. Assim o narra o capítulo 12 dos Atos. 

Logo após o glorioso martírio, o corpo do santo foi levado para a Espanha e colocado em um túmulo de mármore. Assim, neste local, foi venerado até o século III. Posteriormente, com as invasões dos bárbaros no século IV, seguidas pelas dos árabes no século VIII, os habitantes do lugar acabaram perdendo a noção de onde se encontrava o sepulcro do Apóstolo.

O campo da estrela

Por volta de 820, ocorreu um fato milagroso que marcou o reinício da história que São Tiago continuaria a escrever da Eternidade. Nessa época, uma misteriosa estrela começou a aparecer acima de um campo por várias noites consecutivas. Um ermitão de nome Pelayo, habitante das redondezas, convencido do caráter sobrenatural do fenômeno, informou o bispo Teodomiro acerca do estranho acontecimento. Este dirigiu-se ao local com todos os seus fiéis e, seguindo o caminho indicado pela estrela, achou o sepulcro de mármore com os restos do Apóstolo. Sobre esse precioso tesouro, Afonso II o Casto, rei das Astúrias, edificou uma igreja e um mosteiro. A partir de então, a devoção ao santo e o culto a suas relíquias se propagou pelo país.

Santiago de Compostela, padroeiro de toda a Espanha

Porém, foi necessário outro acontecimento milagroso para que o Apóstolo se transformasse em padroeiro de toda a Espanha.

Conta a tradição que durante a batalha de Clavijo, em 844, o rei de Leão, Ramiro I, à frente de um punhado de cristãos, mantinha um combate desesperado contra 70 mil muçulmanos. De repente, apareceu um cavaleiro montado num cavalo branco, portando um estandarte com uma cruz vermelha e, misturando-se aos combatentes, arrasou o inimigo. Todos o reconheceram. A partir dai, “São Tiago!” passou a ser o brado de guerra na grande luta da Reconquista, a qual recebeu um novo ímpeto espiritual, sob a proteção do insigne Apóstolo.

A fama de São Tiago transpôs os Pirineus no momento em que as nações da Europa rumavam para uma profunda unidade religiosa e cultural. A partir do século XI, devido especialmente ao incentivo dos Papas e ao apostolado dos monges de Cluny, as peregrinações a Compostela passaram a atrair cada vez mais as populações da Península Ibérica e de outros países.

No início do século XII, o Papa Calixto II concedeu ao lugar um singular privilégio, confirmado em 1179 por Alejandro III na bula Regis aeterni: todos os anos em que o dia 25 de julho, festa do Apóstolo, coincidir em domingo, podem-se ganhar nessa igreja todas as graças do Jubileu. Nascia assim o Caminho de São Tiago ou “rota jacobéia”.1 A Cristandade ganhava, ao lado de Jerusalém e de Roma, um novo centro de devoção.

Peregrinações à Santiago de Compostela

Partia-se em peregrinação para cumprir um voto, pedir uma graça, implorar uma cura ou obter o perdão das próprias faltas. Todavia, era uma empresa cheia de riscos: as feras, os bandidos, o longo caminho a percorrer, o cansaço. Os peregrinos agrupavam-se em enormes colunas para se protegerem mutuamente. No decorrer do tempo, foram estabelecidas quatro vias principais, com hospedarias, hospitais, pontes, calçadas, cruzes e igrejas espaçosas. O fiéis podiam dessa forma encontrar tudo quanto era necessário para o cuidado dos corpos e das almas durante suas peregrinações. Cada ponto do percurso dava ao peregrino a oportunidade não só de descansar, mas de venerar uma relíquia, rezar diante de uma imagem, conhecer o relato de algum milagre, antes de ser acolhido por São Tiago, em Compostela.

Naquela época, a Igreja, ao estender sua mão pacificadora e cheia de doçura no Caminho de São Tiago, povoou a Europa de maravilhas. Erigindo  assim edifícios com as belezas austeras da arte românica e a luminosidade radiante do gótico. O fervor religioso, servindo de ponto de contato espiritual entre os povos europeus, fez com que todos se sentissem solidários na mesma Fé.

Hoje, por fim, transcorridos vários séculos, peregrinos do mundo inteiro enchem cada verão as rotas jacobéias. E, chegados à imponente Basílica, acorrem logo a rezar ante as relíquias do Santo e a dar o tradicional “abraço” à imagem que se venera no altar-mor.

* Texto publicado originalmente na Revista Arautos do Evangelho – n. 11, em Novembro de 2002 (p. 49 à 51).

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Os dois “tudo” de duas Teresas – VÍDEO

Santa Teresinha do Menino Jesus conta em sua autobiografia (1) um fato muito formativo para quem quer ser verdadeiramente filho de Nossa Senhora e, portanto, de Deus. Outra Teresa, também Santa — Santa Teresa de Jesus — conta outro fato muito pitoresco que poderia se tomar como o “outro lado da medalha” do fato contado pela primeira Santa. Read More

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De onde vem nossa força?

Santo Inácio de Loyola

Um fato ocorrido no fim da vida de Santo Inácio, grande devoto de Nossa Senhora, nos faz ver duas coisas fundamentais para sermos verdadeiros filhos de tão santa Mãe. Para quem deseja ser filho predileto de Maria, consagrando-se com escravo de amor conforme ensina São Luís Grignion, o fato tem suma importância. Read More

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Leão Magno, Papa e Santo – Santo do dia de 10 de novembro

Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Leão Magno foi um dos maiores papas que a História registra. Lutou em seu pontificado contra numerosas heresias que então agitavam a Igreja.

Com a autoridade de Papa aliada à qualidade de Santo, cuja santidade foi confirmada por um dos maiores milagres da História da Igreja – a vitória sobre Átila e suas tropas que pretendiam invadir Roma –, fez sermões advertindo o povo contra os hereges, exortando-o a denunciá-los aos sacerdotes e vigários, para sofrerem as penas canônicas e, eventualmente, também as temporais.

Portanto, ele praticou uma virtude que hoje seria muito pouco apreciada, por ser oposta ao ecumenismo mal compreendido. O que diria São Leão Magno diante das heresias soltas em nossos dias?

Peçamos a ele que reacenda na Igreja esse espírito de discernimento, de intransigência e de luta, que seria suficiente para evitar ao mundo os terríveis castigos pelos quais inevitavelmente vai passar, se não se converter. Que ao raiar a aurora do Reino de Maria esse espírito esteja imensamente aceso e dure até o fim dos tempos.

 

(Extraído de conferência de 10/4/1967. In revista “Dr. Plinio”, nº 248, novembro de 2018, p. 2. Para acessar a revista “Dr. Plinio” clique aqui
 Ilustração: Vatican.va

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O Guarda suíço

É mundialmente conhecida a famosa Guarda Suíça, não só pela disciplina, pela bela vestimenta, como pela sua dedicação em zelar pela pessoa sagrada daquele que Jesus constituiu como “pedra sobre a qual edificou a sua Igreja”.

Muitos dos guardas suíços, ao longo dos séculos deram exemplo dessa dedicação, chegando às vezes a sacrificar a própria vida na defesa daquele que Santo Inácio de Loyola chamava “o doce Cristo na terra”. Read More

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E eles foram…

“Deixai vir a Mim as criancinhas”. Nesta e em várias outras frases do Evangelho, Jesus externa um amor especial pelos pequeninos. Ele diz “Deixai-as vir a Mim”… e as crianças iam.

São comovedoras as passagens do Evangelho em que Nosso Senhor se refere às crianças. Nelas transparece o amor de predileção do Divino Mestre pela inocência. Também fica clara a beleza da inocência quando Jesus refere-se a quem os escandalizar: “Todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar! (Mc 9,42) Read More