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POR QUE A VERDADE DESPERTA O ÓDIO?

Acabara de dar as razões, as provas históricas e, sobretudo, os trechos do Evangelho pelos quais a Igreja Católica é a verdadeira religião fundada por nosso Divino Redentor. Procurei ser o mais claro possível e tornar esta verdade facilmente compreensível pelo meu interlocutor.

Qual não é minha surpresa quando ouço como reação:

Você provou e até provou bem. Mas exatamente por ser verdade eu não aceito! Eu odeio a verdade! Eu quero viver como eu quero! A verdade que vá às favas!

Despedi-me o mais amável que pude, mas não pude deixar de pensar comigo mesmo: como pode ser isso? Como pode alguém reconhecer que algo é verdade e precisamente por ser verdade, odiá-la?

Lembrei-me então de um luminoso artigo do saudoso Doutor Plinio Corrêa de Oliveira que faz algum tempo me chegara às mãos. Nele estava explicado, com a clareza e lucidez tão admirada em Dr. Plinio, porque a verdade desperta o ódio. O caro internauta gostará de conhecê-lo.

POR QUE A VERDADE DESPERTA O ÓDIO?

Plinio Corrêa de Oliveira

Um leitor simpático me pede que explique por que a Igreja – apesar de ser a pregoeira da Verdade – tem sido tão combatida ao longo de sua história. Quer ele saber também por que são tão combatidos, em nossos dias, os católicos verdadeiros, que não pactuam com os erros do século, e se mantêm fiéis ao ensinamento imutável de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Parece-me que o leitor poderia ter ampliado ainda mais o campo de sua pergunta. As perseguições feitas contra a Igreja e os verdadeiros católicos de nossos dias são prolongamento histórico das que sofreu Nosso Senhor Jesus Cristo. Como explicar que o Homem-Deus, que é a Verdade, o Caminho e a Vida, tenha sofrido perseguição, a ponto de ser crucificado entre dois vulgares ladrões?

A essa pergunta, responde luminosamente um dos maiores Doutores de todos os tempos, o grande Santo Agostinho, bispo de Hipona. Reproduzo aqui – adaptando-o ligeiramente para mais fácil intelecção do leitor contemporâneo – o ensinamento do Doutor dos séculos IV e V.

Comentando a célebre palavra de Terêncio: “a verdade engendra o ódio”, Santo Agostinho (Confissões, Livro X, Cap. XXIII) pergunta como explicar fato tão ilógico.

Com efeito, diz ele, o homem ama naturalmente a felicidade. Ora, esta é a alegria nascida da verdade. Assim é uma aberração que alguém veja um inimigo no homem que prega a verdade em nome de Deus.

Assim enunciado o problema, o Santo Doutor passa à explicação. A natureza humana é tão propensa à verdade que, quando o homem ama algo de contrário à Verdade, ele quer que este algo seja verdadeiro. Com isto, cai em erro, persuadindo-se de que é verdadeiro o que na realidade é falho.

Assim, cumpre que alguém lhe abra os olhos. Ora, como o homem não admite que se lhe mostre que se enganou, por isto mesmo não tolera que se lhe demonstre qual o erro em que está.

Santo Agostinho, Bispo de Hipona

E o Doutor de Hipona observa: Por esta forma, certos homens odeiam a verdade, por amor daquilo que eles tomaram por verdadeiro! Da verdade eles amam a luz, não porém a censura… Eles a amam quando ela se lhes mostra, eles a odeiam quando ela se lhes faz ver o que eles são.

– Por sua deslealdade, tais homens sofrem da verdade a seguinte punição: eles não querem ser desvendados por ela, e sem embargo ela os desvenda. E contudo ela, a verdade, continua velada aos olhos deles. “É assim, é precisamente assim que é feito o coração humano. Cego e preguiçoso, indigno e desonesto, ele se oculta mas não admite que nada lhe seja ocultado. Assim lhe sucede que ele não consegue fugir dos olhos da verdade, mas a verdade foge dos olhos dele”. Com estas palavras, conclui Santo Agostinho o seu magistral comentário. (…)

Eis, meu ingênuo leitor, por que motivo atrai a perseguição quem diz a verdade.

E assim se explicam a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e os vinte séculos de história da Igreja.

(Publicado em A Cruz, Rio de Janeiro, 7 de maio de 1972)
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gaudium Press, wiki