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MARIA, O PARAÍSO DE JESUS

O leitor parou algum dia para refletir sobre as maravilhas com que o Criador ornou o Paraíso Terrestre? Nossos primeiros pais, postos nesse paraíso de delícias conforme narrado no Gênesis, viviam num estado de santidade e de justiça originais, na amizade com o Criador da qual provinha sua felicidade.[1] Que coisa extraordinária o Paraíso terrestre dado a Adão! Houve, porém, o pecado original, e, consequentemente, Adão e Eva perderam a familiaridade com Deus e foram expulsos do Éden.

Exceção feita do Paraíso Celeste, poder-se-ia imaginar lugar e estado mais feliz do que aquele dado por Deus aos nossos primeiros pais antes da prova?

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Por que somos tentados?

     No primeiro domingo da quaresma, a liturgia da Igreja nos apresenta um tema muito comum na vida dos homens: a tentação! Há muitos que desconhecem ou não tem presente ao espírito, a verdadeira natureza e o caráter das tentações. Todos têm suas tentações, e muitas. E, entre os diversos caminhos pelos quais Deus conduz as almas escolhidas, está a vereda das tentações.

     A tentação é o caminho pelo qual todos devem trilhar. Passam por entre multidões de tentações, atravessando uma após outra, e cada qual excede a anterior em fealdade. O fato de poder Deus fazer consistir o caminho da perfeição também em tentações lança, no entanto, considerável luz sobre o porquê da tentação em geral. Em suma, como disse São Thiago, é necessário que haja tentações, pois não poderá ser coroado aquele que não batalhar varonilmente (Cf. Tg. 1,12), e a tentação é um excelente adversário; não existem ao acaso, mas são inerentes à condição humana; não se cruzam no ar como balas sobre um campo de guerra, pois cada tentação já tem sua coroa preparada, se a alma corresponder à graça e alcançar a vitória.

     Assim disse o sábio: “Filho, se queres servir a Deus, conserva-te na justiça e no temor e prepara-te para a tentação (Eclo. 2,1).” E ainda: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? (Jó. 7,1)”. Depois do pecado de Adão o homem só descansará das guerras espirituais no Céu, pois no dizer de São Jerônimo sobre a passagem “Tempo de guerra e tempo de paz” (Eclo. 3,8), enquanto habitamos neste mundo é tempo de guerra, quando passarmos ao outro, será tempo de paz.[1] Assim, nessa terra será sempre tempo de peleja enquanto a morada do homem for uma tenda corruptível e mortal.

     Contudo, muitas são as pessoas que se queixam amargamente de suas tentações, visto que elas se apresentam sob as formas mais diversas: atração, desejo, repulsa, desagrado, lentidão, omissão, negligência e precipitação. Em virtude disso, afetam todas as ordens: deveres de estado, classes sociais, orgulho, pureza, justiça, piedade etc.

     As tentações podem ser interiores, quando nascem dos sentidos livres e indisciplinados, quer das paixões ardentes e desregradas da concupiscência desordenada pelo pecado original; exteriores, quando por ação diabólica ou não, causam deleitações as riquezas, as honras, as afeições mal concebidas e as distrações; ou uma e outra ao mesmo tempo. Quanto às que participam das duas naturezas, possuem os atrativos de ambas. Em síntese são polimórficas.

     Vistas, porém, sob certo aspecto, todas as tentações consistem numa aliança entre o que está dentro e o que está fora do homem. Nem todas as tentações provêm do demônio, todavia deve-se receá-lo e ter uma ideia clara das funções terríveis e malignas que lhe atribui a Escritura, pois, como diz São Pedro: “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como leão a rugir, procurando a quem devorar” (1Pd. 5,8).

     No entanto, as tentações constituem matéria prima para a glória; saber governá-las é tão importante quanto governar um império e requer vigilância ainda maior.[2]Por grandes que sejam as aflições e os desgostos que as tentações possam causar à alma, é, em geral, dom de Deus não ser preservada delas. Por três vezes implorou São Paulo que lhe fosse tirado o aguilhão que o atormentava. Contudo, a resposta recebida de Deus, “basta-te a minha graça” (Cf. 2Cor. 12,7-10), mostra quão precioso é o dom da tentação, ou a permissão divina pela qual se é tentado.


[1] Cf. SÃO JERÔNIMO, in. RODRÍGUEZ, Alonso. Ejercicio de Perfección y Virtudes Cristianas. Tomo II. Madrid: 1930. p. 463.

[2] Cf. WILLIAM FABER, Frederick. Progresso na vida espiritual. Rio de Janeiro: Editora Vozes Ltda, 1947. p. 252